09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Não só a APEB, mas mesmo os sargentos individualmente, no final da década <strong>de</strong><br />

1990, começaram a assumir um papel mais representativo <strong>de</strong> luta por seus direitos. Um<br />

conflito contínuo, como fala Elias, que, nesse sentido, forçou um importante <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res em favor do grupo outsi<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> forças que tivera o suporte <strong>de</strong><br />

instituições fora do ambiente relacional, particularmente os órgãos <strong>de</strong> imprensa e do Po<strong>de</strong>r<br />

Judiciário.<br />

Norbert Elias nos ajuda a explicar esse quadro relacional e a consequente retaliação<br />

<strong>de</strong>le advinda, por parte do grupo dos sargentos. Segundo ele,<br />

292<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estigmatizar diminui ou até se inverte, quando um grupo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

estar em condições <strong>de</strong> manter seu monopólio das principais fontes <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

existentes numa socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> excluir da participação nessas fontes outros grupos<br />

inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes – os antigos outsi<strong>de</strong>rs. Tão logo diminuem as disparida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> força<br />

ou, em outras palavras, a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> do equilíbrio <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, os antigos grupos<br />

outsi<strong>de</strong>rs, por sua vez, ten<strong>de</strong>m a retaliar (ELIAS, 2000, p. 24).<br />

As retaliações vieram com ainda mais po<strong>de</strong>r, pois foram graças a elas que alguns<br />

regulamentos militares foram alterados, em benefício das praças. Contudo, há um paradoxo<br />

que envolve essa relação entre “estabelecidos” e “outsi<strong>de</strong>rs”, intimamente relacionada à<br />

natural inter<strong>de</strong>pendência entre os dois grupos e ao passado <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>pendência dos<br />

sargentos, em relação aos oficiais.<br />

Como uma espécie <strong>de</strong> efeito <strong>de</strong> trava, o grupo tem obtido um exce<strong>de</strong>nte maior <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r, não obstante, sem o preparo para geri-lo, mesmo internamente, <strong>de</strong>ntro do grupo, e<br />

levá-lo a termo, em todos os seus matizes. Devido a uma maior auto<strong>de</strong>terminação do grupo<br />

dos sargentos, em seus afazeres cotidianos e, não acostumados a tal, os sargentos parecem<br />

esperar dos oficiais uma ação mais enérgica, nos casos relacionados aos sargentos –<br />

consi<strong>de</strong>rados pelo grupo, e também pelos oficiais – pouco afetos ao trabalho. Estes parecem<br />

ser reputados pelo <strong>de</strong>poente como <strong>de</strong>letérios à harmonia do grupo dos sargentos, pois,<br />

segundo o <strong>de</strong>poente, perante todo o grupo, <strong>de</strong> um modo geral, “eles se dão bem” (Entrevista<br />

5). Significa isso que, na vida prática, possuem a regalia <strong>de</strong> não trabalharem como os <strong>de</strong>mais<br />

e <strong>de</strong> não respon<strong>de</strong>rem disciplinarmente por seu baixo rendimento laboral. Na insuficiência da<br />

autodisciplina <strong>de</strong> alguns e na ausência <strong>de</strong> uma compressão moral mais efetiva, por parte <strong>de</strong><br />

elementos mais graduados do próprio grupo, os sargentos parecem esperar que os oficiais<br />

exerçam sua autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maneira mais incisiva e constante, a fim <strong>de</strong> conduzir os<br />

indolentes a uma maior disponibilida<strong>de</strong> ao trabalho. O <strong>de</strong>poente não encara essa função como

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!