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incondicional dos sargentos aos seus superiores oficiais, já que a disciplina seria um ponto<br />

importante a ser avaliado para se compor o ranking daqueles aptos às sucessivas promoções.<br />

Segundo ele,<br />

353<br />

militar quando ele tá, quando ele é chamado 'lobinho' 396 , quando ele é recémformado,<br />

ele não visualiza muito isso. Mas principalmente quando ele chega na<br />

graduação <strong>de</strong> subtenente, eles ten<strong>de</strong>m a ficar mais cor<strong>de</strong>iros, né, po<strong>de</strong>mos dizer<br />

assim. Aquele 3º sargento que era mais aloprado! Que talvez tinha aquela coragem<br />

<strong>de</strong> dizer o que pensava, <strong>de</strong> contrariar quando ele achava que aquilo não estava certo,<br />

essa coragem ela foi sendo podada. E aquele militar vai ficando antigo e vai ficando<br />

talvez institucionalizado. E talvez ele vai percebendo que não adianta nadar contra a<br />

maré. E ele vai apren<strong>de</strong>ndo a dizer apenas 'sim senhor!'. E sabe também, além <strong>de</strong> ser<br />

o caminho mais fácil, ele vai ter menos dor <strong>de</strong> cabeça. E vai talvez chegar à patente<br />

lá <strong>de</strong> oficial. De 2º tenente, 1º tenente. Ou até alguns <strong>de</strong> capitão. Então, aquilo passa<br />

a ser o farol, né. O objetivo daquele subtenente (Entrevista nº 6).<br />

O <strong>de</strong>poente faz uma contraposição entre a juventu<strong>de</strong> e a maturida<strong>de</strong>, por meio da<br />

disposição <strong>de</strong> principalmente duas características opostas: a inconsequência e previsão. A<br />

agressivida<strong>de</strong> e a coragem, para se expressar e contrariar or<strong>de</strong>ns superiores, em favor <strong>de</strong><br />

convicções morais, são substituídas pela passivida<strong>de</strong> submissa em relação a essas mesmas<br />

or<strong>de</strong>ns, a fim <strong>de</strong> garantir conceito e prestígio junto aos chefes. Relativamente à carreira, as<br />

ações dos mais jovens são tidas como inconsequentes, já que atos <strong>de</strong> coragem para afrontar o<br />

po<strong>de</strong>r volitivo dos oficiais po<strong>de</strong>m ter a contrapartida <strong>de</strong> distanciar seu autor <strong>de</strong> futuras<br />

promoções. Em contrapartida, a submissão incondicional àquele po<strong>de</strong>r volitivo <strong>de</strong> seus<br />

comandantes faria parte <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> acúmulo <strong>de</strong> espírito <strong>de</strong> previsão, já que a<br />

obediência aumentaria as chances <strong>de</strong> promoções, incluindo a promoção ao oficialato, “o<br />

objetivo”, relativamente próximo e alcançável, da maioria dos subtenentes (Entrevista nº 6).<br />

Na burocracia pública, assim como na burocracia militar, não só as expectativas <strong>de</strong><br />

novas promoções, mas a simples posição etária dos indivíduos já seria suficiente para lhes<br />

<strong>de</strong>finir comportamentos, mais ou menos submissos, na escalada <strong>de</strong> sua socialização<br />

profissional. Acerca da burocracia pública paulista, do final dos anos <strong>de</strong> 1970, Bucalem<br />

Ferrari, atesta que<br />

396 O termo “lobinho” advém do escotismo, e refere-se ao seu ramo inicial, direcionado às crianças entre 7 a 10<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Possivelmente transplantado ao Exército por ex-escotistas que seguiram carreira militar, <strong>de</strong><br />

maneira um tanto quanto jocosa, o mesmo termo refere-se, por analogia, àqueles profissionais que estão<br />

iniciando suas carreiras. Sobre o termo, ver: JORGE, Sônia e RODRIGUES, Theodomiro. Escotistas em<br />

ação: ramo lobinho. Curitiba: União dos Escoteiros do Brasil, 2011. Ramos do escotismo: Disponível em:<br />

http://www.escoteiro.com.br/aprenda/escotismo/ramo/; Acesso em: 12 Jun 12.

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