09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sargentos “não pensava em estudar”. E os que se interessavam em estudar, <strong>de</strong> acordo com ele,<br />

ficavam visados como potencialmente subversivos, somente por se expressarem<br />

diferentemente da gran<strong>de</strong> maioria.<br />

O ato <strong>de</strong> expressão diferente, talvez um pouco mais crítico em relação à sua<br />

realida<strong>de</strong>, era visto como um tipo <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança, e bastante perigosa, por conta justamente da<br />

sua potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crítica em relação ao status quo. Nas palavras <strong>de</strong> Abdon,<br />

177<br />

por a gente falar um pouco <strong>de</strong>mais com o pessoal, <strong>de</strong>ntro do quartel, eu não sei<br />

quem, ou o motivo, mas, um ou outro na hora em que houve a Revolução, todo<br />

mundo foi chamado pra...né...<strong>de</strong>por perante uma junta lá, que fizeram nos quartéis,<br />

em todos os quartéis, pra saber qual é a condição do sargento, né, porque falavam<br />

muito que os sargentos iriam formar uma tropa, né, e ir <strong>de</strong> encontro aos oficiais<br />

(LUZ, 2011).<br />

É direta a associação que faz Abdon entre a aquisição <strong>de</strong> cultura formal dos sargentos<br />

e a suspeição, por parte dos oficiais, em relação à sua potencialida<strong>de</strong> subversiva. Para alguém<br />

com quase <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> serviço, que “tinha verda<strong>de</strong>ira paixão por ser militar” e que se<br />

apresenta como “patriota ao extremo”, o sofrimento <strong>de</strong> se ver preso por quatro dias, <strong>de</strong> ser<br />

constantemente interrogado e <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r a um processo judicial, acusado <strong>de</strong> comunismo,<br />

sabendo que a suspeição se dava por conta <strong>de</strong> sua relativa cultura formal e por expressar<br />

pensamentos, <strong>de</strong>ve ter contribuído <strong>de</strong> alguma maneira, combinado com outros fatores, para<br />

que, enfim, abandonasse o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> prosseguir nos estudos.<br />

Não prosseguiu, mas prontificou-se a ajudar a um colega que queria prosseguir, já<br />

que, por volta <strong>de</strong> 1971, quando servia no CPOR <strong>de</strong> Curitiba, trocou <strong>de</strong> função com um outro<br />

sargento, a fim <strong>de</strong> lhe facilitar os estudos em Medicina.<br />

Não era uma regra universal que, em todas as unida<strong>de</strong>s do Exército, os sargentos<br />

tivessem gran<strong>de</strong>s possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudar. Em algumas unida<strong>de</strong>s, segundo conta Abdon, os<br />

oficiais tentavam impedir os sargentos <strong>de</strong> estudarem, com perseguições das mais variadas,<br />

mas, segundo Abdon, “não tinham muita força também não, porque a gente fazia as coisas<br />

entre nós <strong>de</strong> uma maneira que eles não tinham como...” (LUZ, 2011). Outras unida<strong>de</strong>s eram<br />

consi<strong>de</strong>radas mais “tranquilas”, dando melhores possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> os sargentos estudarem. O<br />

CPOR <strong>de</strong> Curitiba era um <strong>de</strong>sses lugares. Segundo crê Abdon<br />

é até um dos motivos que andaram fechando, foi por esse motivo...foi porque diz-se<br />

que o pessoal do CPOR era um pessoal que não dava atenção ao Exér...à Força..., só<br />

tava tratando <strong>de</strong> se intelectualizar, <strong>de</strong> estudar...e <strong>de</strong>pois sair fora (LUZ, 2011).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!