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Contudo, quase que a partir <strong>de</strong> uma visão da outra ponta da chibata, ninguém melhor<br />

que o mestre socialmente conservador e intelectualmente revolucionário Gilberto Freyre, para<br />

<strong>de</strong>slegitimar essa visão utilitarista <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> daquele instrumento. Para Freyre, a<br />

“tradição conservadora” no Brasil “sempre se tem sustentado do sadismo do mando,<br />

disfarçado em ‘princípio <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>’ ou ‘<strong>de</strong>fesa da or<strong>de</strong>m’” (FREYRE, 1999, p. 52).<br />

Não apenas a utilida<strong>de</strong> da ferramenta socializante <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada como<br />

legitimante da violência, mas também o aspecto psicológico dos agentes, seus usuários. Na<br />

pena <strong>de</strong> Gilberto Freyre, conservadorismo, sadismo e autorida<strong>de</strong> seriam o tripé<br />

comportamental que haviam forjado nas classes senhoriais suas reações <strong>de</strong> compulsão pela<br />

violência aos seus inferiores sociais, <strong>de</strong>terminando um padrão <strong>de</strong> relações entre superiores e<br />

inferiores sociais vigentes por muito tempo, mesmo <strong>de</strong>pois do fim da escravidão.<br />

Não era exclusivida<strong>de</strong> do Brasil. O recrutamento do Exército imperial brasileiro não<br />

era muito diferente do recrutamento <strong>de</strong> todos os outros exércitos do mundo. A unida<strong>de</strong><br />

prussiana em que Clausewitz havia incorporado, em 1792, aos 11 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, por exemplo,<br />

tinha um príncipe como coronel, seus oficiais eram da pequena nobreza prussiana e os<br />

soldados, “praticamente escravizados” eram recrutados entre os mais pobres da socieda<strong>de</strong><br />

(KEEGAN, 2006, pp. 33-34).<br />

Outra característica difundida na maioria dos exércitos oci<strong>de</strong>ntais fora a cultura<br />

personalista dos chefes 36 e a legitimida<strong>de</strong> que as ações advindas <strong>de</strong>sse personalismo lhes<br />

garantia. Personalista, o chefe militar era também patriarcal, tendo o <strong>de</strong>ver moral <strong>de</strong> “educar”<br />

seus subordinados como um pai educaria seus filhos. Se a lei fosse vista como “frouxa”, sua<br />

mão <strong>de</strong>veria ser mais pesada que a lei, a fim <strong>de</strong> manter sua autorida<strong>de</strong>. Nesse sentido, era<br />

pensamento corrente o <strong>de</strong> que quanto mais rigoroso o pulso disciplinador do chefe, mais<br />

“respeito” angariaria entre os seus subordinados. Uma espécie <strong>de</strong> apropriação da lógica<br />

maquiavélica da <strong>de</strong>sconfiança universal dos homens e pela consequente escolha pela<br />

cruelda<strong>de</strong> para com seus subordinados. 37<br />

43<br />

36<br />

37<br />

Legislatura, p. 7. Disponível em: http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u2221/000001.html; Acesso em 15 Abr 2011.<br />

FREYTAG-LORINGHOVEN, Hugo von. O Po<strong>de</strong>r da Personalida<strong>de</strong> na Guerra. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bibliex,<br />

1986.<br />

Para Maquiavel, entre ser amado e ser temido, o príncipe <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>sejar ser ambos, porém, diante da<br />

dificulda<strong>de</strong> em se reunir ambas as qualida<strong>de</strong>s, seria mais seguro ser temido. Isso, explica ele, porque “os<br />

homens geralmente são ingratos, volúveis, simuladores, covar<strong>de</strong>s e ambiciosos <strong>de</strong> dinheiro, e, enquanto lhes<br />

fizeres bem, todos estão contigo, oferecem-te sangue, bens, vida, filhos..., <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a necessida<strong>de</strong> esteja<br />

longe <strong>de</strong> ti. Mas, quando ela se avizinha, voltam-se para outra parte (…) E os homens hesitam menos em<br />

ofen<strong>de</strong>r aos que se fazem amar do que aos que se fazem temer, porque o amor é mantido por um vínculo <strong>de</strong><br />

obrigação, o qual, <strong>de</strong>vido a serem os homens pérfidos, é rompido sempre que lhes aprouver, ao passo que o

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