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118<br />

As observações feitas por Leonércio Soares, incluindo algumas que <strong>de</strong>monstram que<br />

parte das missões mais arriscadas <strong>de</strong> patrulha era feita à base <strong>de</strong> voluntários (SOARES, 1985,<br />

pp. 163;266) vão ao encontro <strong>de</strong> outras narrativas do front. O cronista Rubem Braga<br />

transcreve uma história contada pelo sargento Geraldo Pierre, <strong>de</strong> Caçapava, o chamado por<br />

Braga <strong>de</strong> “sargento das patrulhas”, que pouco ou nada combina com o autoritarismo das<br />

<strong>de</strong>cisões superiores no “Exército <strong>de</strong> Caxias”. Contou-lhe o sargento:<br />

Chamei os soldados para um lado e disse: 'Olhe, pessoal, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa casa tem<br />

alemão. Nossa missão nesta patrulha não tem nada com isso: nós não saímos para<br />

fazer prisioneiros nem nada, mas eu acho que a gente <strong>de</strong>ve atacar esses homens (…)<br />

Como é, vocês querem pegar esses homens Os soldados ficaram calados, um<br />

momento, e um <strong>de</strong>les, o Jesuíno... – Jesuíno <strong>de</strong> quê Jesuíno Vieira da Silva, soldado<br />

4.079. O Jesuíno disse assim: 'O senhor é que dá a or<strong>de</strong>m. Se é para ir, a gente vai'.<br />

Eu fui, respondi: 'Não, eu não estou dando or<strong>de</strong>m, estou perguntando se vocês<br />

topam'. Aí todos logo respon<strong>de</strong>ram que sim. 'O que o senhor fizer está bem feito.' 194<br />

As relações dos tenentes e sargentos pareciam ser bastante amistosas, já que,<br />

algumas vezes, as funções <strong>de</strong> tenentes e sargentos não pareciam ser muito diferentes. Dada<br />

essa aproximação funcional, Maximiano e Gonçalves afirmam que os tenentes e sargentos<br />

revezavam-se realizando as mesmas tarefas, e que os sargentos tinham condições <strong>de</strong><br />

substituir os tenentes e chegavam a comandar seus pelotões, oficialmente, por algum tempo<br />

(MAXIMIANO & GONÇALVES, 2005, pp. 110;112;118). Mesmo não oficialmente, em<br />

alguns casos, era percebida a existência, nos pelotões, <strong>de</strong> comandantes <strong>de</strong> fato e <strong>de</strong> direito.<br />

Soares conta:<br />

Ali estava o verda<strong>de</strong>iro Comandante do Pelotão <strong>de</strong> Petrechos Pesados – o<br />

comandante <strong>de</strong> fato. Quanto ao comandante <strong>de</strong>signado – o 1º tenente Sargosa,<br />

ninguém sabia por on<strong>de</strong> andava àquela hora. Era seu hábito viver <strong>de</strong> cara<br />

contrariada, como se estivesse sempre choramingando, lamentando-se pelos cantos<br />

dos porões, ausente, omisso e distanciado <strong>de</strong> todas as operações complicadas,<br />

difíceis e perigosas. Nessas ocasiões é que Jucelino agia (SOARES, 1985, pp. 231-<br />

232).<br />

Entre os tenentes e sargentos, há passagens narradas da mais pura consi<strong>de</strong>ração e<br />

amiza<strong>de</strong>. Leonércio conta que um oficial inexperiente teria aceitado observações e sugestões<br />

feitas por sargentos mais experimentados (SOARES, 1985, p. 164), inimaginável no<br />

“Exército <strong>de</strong> Caxias”. Conta, também, que outro tenente, na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> servir a todos<br />

194 BRAGA, Rubem. Crônicas da guerra na Itália. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 1996, p. 146.

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