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e socieda<strong>de</strong>, participam os pesquisadores das ciências humanas. São indivíduos que sofrem as<br />

ações da socieda<strong>de</strong> e nela agem. Quem <strong>de</strong>screve a história do seu próprio tempo é testemunha<br />

e historiador, que nunca ignora o rigor científico, mas é ator em relação direta com seu tema,<br />

estando ligado a seu tempo e à comunida<strong>de</strong> à qual pertence (CHAVEAU, 1999, p. 25;78).<br />

Nesse sentido, Norbert Elias arrazoa que<br />

8<br />

Aquele que estuda e pensa a socieda<strong>de</strong> é ele mesmo um dos seus membros(...). A<br />

socieda<strong>de</strong> que é muitas vezes colocada em oposição ao indivíduo é inteiramente<br />

formada por indivíduos, sendo nós próprios um ser entre os outros (ELIAS, 1970, p.<br />

13).<br />

Outros autores (HOBSBAWM, 2000; BOURDIEU, 2005) também tornaram claras<br />

as suas preocupações a respeito do distanciamento, dada a relação <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> temporal e<br />

geográfica com os seus objetos <strong>de</strong> estudo. Em outro <strong>de</strong> seus trabalhos <strong>de</strong> fôlego, Elias discute<br />

mais especificamente o problema do indivíduo pesquisador na construção <strong>de</strong> análises acerca<br />

<strong>de</strong> um mundo no qual ele se insere:<br />

Dissimulada em segundo plano nos estudo aqui publicados está uma testemunha<br />

ocular que presenciou, por cerca <strong>de</strong> noventa anos, os acontecimentos relatados à<br />

medida que <strong>de</strong>senrolavam. O quadro <strong>de</strong> eventos elaborado por alguém que é<br />

pessoalmente afetado por eles difere usualmente, <strong>de</strong> modo característico, daquele<br />

que se forma quando observados com a imparcialida<strong>de</strong> e o distanciamento <strong>de</strong> um<br />

pesquisador. É como uma máquina fotográfica, que po<strong>de</strong> ser focalizada em função<br />

<strong>de</strong> diferentes distâncias – close up, plano médio e gran<strong>de</strong> distância. Algo semelhante<br />

ocorre com o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> um pesquisador que também vivenciou os eventos<br />

que está estudando (…) É mais fácil, em princípio, reconhecer os elementos<br />

compartilhados do "habitus" nacional no caso <strong>de</strong> outros povos do que no daquele a<br />

que se pertence (…) Adquirir consciência das peculiarida<strong>de</strong>s do habitus da nossa<br />

própria nação requer um esforço específico <strong>de</strong> autodistanciamento (ELIAS, 1997, p.<br />

15)<br />

Se, para adquirir a consciência do habitus <strong>de</strong> sua própria nação, é necessário um<br />

esforço por parte do pesquisador, o mesmo se po<strong>de</strong>ria dizer acerca do grupo profissional a<br />

qual pertence. Esse distanciamento artificial – uma espécie <strong>de</strong> projeção extracorpórea<br />

realizada intelectualmente – e a objetivida<strong>de</strong> das análises e da apresentação historiográfica<br />

<strong>de</strong>veriam ser perseguidos tanto através da utilização dos referenciais teóricos como do<br />

rigorismo do método <strong>de</strong> pesquisa e manipulação das fontes.<br />

É criticável pensar na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um saber plenamente objetivo e ingênua a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o pesquisador seja capaz <strong>de</strong> atingir o passado em si mesmo, ser imparcial e livre<br />

<strong>de</strong> preferências e valores. Aliás,

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