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O ministro, finalizando seu relatório, informou ao presi<strong>de</strong>nte que o referido cabo<br />

havia sido promovido a 3º sargento, já estando legalmente habilitado, recebendo sua divisa<br />

em formatura na 5ª Brigada. Na cerimônia, comandara a mesma guarda que, junto com ele, se<br />

tinha “conservado obediente ao <strong>de</strong>ver”. 86<br />

O relatório é bastante sintético, mas é sobremodo esclarecedor, a respeito do<br />

movimento dos sargentos, <strong>de</strong> 1915. A conclusão orgulhosa que os sargentos, intermediários<br />

entre os oficiais e as praças, “não conseguiram interessar” nenhum oficial, nem tiveram<br />

prestígio para “arrastar os soldados <strong>de</strong> suas unida<strong>de</strong>s”, leva a inferir dois alcances. Um <strong>de</strong>les,<br />

estritamente político, pois, possivelmente impulsionado pelo político Maurício <strong>de</strong> Lacerda, o<br />

movimento <strong>de</strong> 1915 parece ter se <strong>de</strong>senvolvido a partir <strong>de</strong> interesses que diziam respeito<br />

exclusivamente aos sargentos. Havia uma intencionalida<strong>de</strong> estritamente política ao<br />

<strong>de</strong>clararem – contrapondo-se à República presi<strong>de</strong>ncialista, proclamada pelos oficiais – que a<br />

República parlamentarista <strong>de</strong>veria ser lançada pelos sargentos. O exclusivismo das ambições<br />

do grupo dos sargentos parece ter <strong>de</strong>terminado a sua solidão no movimento. As 14 “praças <strong>de</strong><br />

menor graduação” que foram expulsas, provavelmente, envolveram-se no movimento muito<br />

mais por questões <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> e solidarieda<strong>de</strong>s individuais com alguns sargentos<br />

do que por acreditar na causa do grupo.<br />

Outro alcance relaciona-se à formação i<strong>de</strong>ntitária dos sargentos. Se o oportunismo<br />

dos políticos profissionais já havia neles encontrado guarida, é porque talvez existisse, um<br />

reconhecimento, por parte dos sargentos, <strong>de</strong> que se constituíam um grupo específico, e<br />

relativamente importante, no Exército. Certamente o contexto sobremodo <strong>de</strong>ve ter<br />

influenciado suas posições contestatórias. Além do episódio da Revolta da Chibata estar,<br />

ainda, bem fresca na memória daqueles sargentos, a socieda<strong>de</strong> urbana mais pobre estava<br />

permeada pelos discursos anarcossindicalistas e comunistas. Certamente que esses discursos<br />

inspiradores <strong>de</strong>vem ter chegado aos ouvidos dos sargentos, fazendo-os, também, compreen<strong>de</strong>r<br />

a socieda<strong>de</strong> a partir da relação entre exploradores e explorados. Essa é uma hipó<strong>tese</strong> a ser<br />

explorada em pesquisas futuras.<br />

Mas essa relação entre os discursos ouvidos e, talvez, apropriados, era extremamente<br />

ambígua e seletiva. Os sargentos passaram a ser vistos como explorados pelos oficiais, mas, a<br />

fim <strong>de</strong> firmarem uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria, apartada das outras praças (eram vistos pelos<br />

oficiais como soldados com divisas) particularmente dos cabos, emprestaram um tom<br />

65<br />

86<br />

I<strong>de</strong>m.

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