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27<br />

Nas fontes analisadas, principalmente as orais, quando se diz respeito às condições<br />

<strong>de</strong> tratamento dos oficiais em relação aos sargentos, há normalmente um reforço por parte dos<br />

entrevistados que, no sentido geral, o tratamento era relativamente cordial; porém, em<br />

<strong>de</strong>terminadas ocasiões, o distanciamento social e funcional seria garantido pela ru<strong>de</strong>za das<br />

ações <strong>de</strong> mando. Um dos <strong>de</strong>poentes, Abdon Luz, explicita que havia a percepção <strong>de</strong> que os<br />

sargentos eram tratados pelos oficiais como uma “sub-raça”, enquanto os oficiais se<br />

autorrepresentavam como uma “elite” (LUZ,2011). Como o <strong>de</strong>poente não contesta essa<br />

versão, é bem possível que essa representação se reproduzia, também, em meio aos sargentos.<br />

Esse seria um comportamento típico <strong>de</strong> grupos inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, em uma relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

em que Elias chamou <strong>de</strong> relações entre “estabelecidos” e “outsi<strong>de</strong>rs”, caracterizadas pelas<br />

distâncias sociais dos grupos envolvidos, o que faz surgir ou reforçar a sensação <strong>de</strong><br />

superiorida<strong>de</strong> dos primeiros e <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> dos segundos. Elias esclarece que<br />

Vez por outra, po<strong>de</strong>mos observar que os membros dos grupos mais po<strong>de</strong>rosos que<br />

outros grupos inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes se pensam a si mesmos (se autorrepresentam) como<br />

humanamente superiores. O sentido literal do termo 'aristocracia' po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong><br />

exemplo (…) Essa é a autoimagem normal dos grupos que, em termos do seu<br />

diferencial <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, são seguramente superiores a outros grupos inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.<br />

(...) Mais ainda, em todos esses casos, os indivíduos 'superiores' po<strong>de</strong>m fazer com<br />

que os próprios indivíduos inferiores se sintam, eles mesmos, carentes <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s –<br />

julgando-se humanamente inferiores (ELIAS, 2000, pp. 19-20).<br />

Mas esse comportamento caracterizado pela sensação <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um grupo<br />

em relação a outros não seria privilégio das relações entre oficiais e sargentos. O mesmo<br />

entrevistado, citado acima, indica a percepção <strong>de</strong> que, nas relações dos sargentos com os<br />

soldados, era necessário o reforço constante da superiorida<strong>de</strong> dos primeiros em relação a<br />

estes, pois:<br />

Soldadinho, também, era safado, né...Porque soldado é danado, né, você sabe que é,<br />

mas às vezes tem que...tem que comandar um soldado com uma certa imposição, né.<br />

Senão ele não nos obe<strong>de</strong>ce... não obe<strong>de</strong>ce. Se você não comandar ele... (LUZ,2011).<br />

Mencionados no diminutivo, adjetivados como “safado(s)” e “danado(s)”, os<br />

soldados eram estigmatizados e <strong>de</strong>sumanizados, também, pelos sargentos. Parecendo<br />

constrangido em sua narrativa, um ex-soldado da década <strong>de</strong> 1970 compartilha suas<br />

experiências, a respeito do tratamento conferido aos soldados:

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