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pertencentes ao seu grupo social <strong>de</strong> origem, não mais o iriam afetar. Os hábitos, as práticas<br />

sociais e afetivas e os padrões <strong>de</strong> consumo seriam outros, refletindo o caráter socialmente<br />

conservador daquelas aspirações, mas indicando a ascensão social, que sua nova condição<br />

indicada pelo epíteto <strong>de</strong> sargentos po<strong>de</strong>ria lhe possibilitar. As aspirações políticas fizeram<br />

parte <strong>de</strong>ssas possibilida<strong>de</strong>s.<br />

No ano <strong>de</strong> 1961, os sargentos tiveram uma participação importante para a<br />

manutenção da posse do Presi<strong>de</strong>nte Jango, sabotando a chamada “Operação Mosquito” (DOS<br />

SANTOS, 2011, p.36). O gaúcho Leonel Brizola mantinha uma relação <strong>de</strong> interesses com os<br />

sargentos <strong>de</strong> algumas associações no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Sugeria ao seu cunhado, o então<br />

presi<strong>de</strong>nte João Goulart a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fiar nos sargentos como seu dispositivo militar<br />

(STEPAN, 1975, p. 119). Fator que trouxe importantes acontecimentos, que envolveram ou<br />

protagonizaram os sargentos, principalmente a Revolta dos Sargentos <strong>de</strong> Brasília, em 1963.<br />

De um modo ou outro, esses fatores trouxeram o grupo social 233 para o cenário político,<br />

lançando em si luzes <strong>de</strong> reconhecimento público, que jamais tiveram no ambiente militar.<br />

Muitos sargentos foram punidos por tomarem posições políticas e as <strong>de</strong>clararem. 234 A<br />

socialização militar parece não ter sido suficiente para apartarem os sargentos do universo<br />

político. Aliás, a própria socialização militar é que parece ter incentivado – pelo menos na<br />

ótica <strong>de</strong> um dos mais polêmicos generais do Golpe <strong>de</strong> 1964 – a luta política dos sargentos. Na<br />

época em que o General Mourão Filho escreveu seu diário, para ele o sargento i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>veria<br />

ser o “sargentão ru<strong>de</strong> e pouco instruído, mas incapaz <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar em condições <strong>de</strong> se<br />

meter em política e impossibilitado <strong>de</strong> ter articulação em âmbito nacional” (FILHO, 1978, p.<br />

255). Era um saudosista do i<strong>de</strong>al-típico sargento que, na década <strong>de</strong> 1960, já não correspondia<br />

mais à totalida<strong>de</strong> do grupo <strong>de</strong> subalternos, mais politizados e cultos do que aquela figura<br />

arquetípica do sargento.<br />

Para ele, a Escola <strong>de</strong> Sargentos das Armas <strong>de</strong>veria ser fechada<br />

133<br />

porque é um centro <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> futuros subversivos, pois não se submetem ao<br />

233 Não havia empatia dos sargentos com os soldados, já que, em 1961, o lema da participação dos sargentos no<br />

movimento pela Legalida<strong>de</strong> fora “sargento também é povo” (MACIEL, 2009, p. 178). Ou seja, mantinha um<br />

caráter exclusivista tanto em relação aos oficiais, quanto em relação às outras praças, cabos e soldados.<br />

234 Em 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1963, “cerca <strong>de</strong> mil sargentos do Exército reuniram-se no auditório do Instituto <strong>de</strong><br />

Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), com a presença <strong>de</strong> dirigentes do Comando Geral dos<br />

Trabalhadores (CGT), entre os quais Hércules Correia e Osvaldo Pacheco. Na ocasião o sargento Gelci<br />

Rodrigues Correia pronunciou um violento discurso, jurando '<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a or<strong>de</strong>m em nossa Pátria, mas não<br />

essa que está aí, que beneficia somente uns poucos privilegiados'. No dia 23, Kruel <strong>de</strong>terminou que o<br />

sargento fosse punido com 30 dias <strong>de</strong> prisão” (SANTOS, 2010, p. 44).

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