09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

pelas ações e conversas do grupo <strong>de</strong> estudantes e das aulas <strong>de</strong> seus professores, pois, segundo<br />

o <strong>de</strong>poente,<br />

226<br />

os caras...discordavam, né. Porque essa [pausa curta] ditadura, que eles falam, é<br />

coisa que colocavam na cabeça <strong>de</strong> estudantes. Estudante é massa fácil <strong>de</strong> manejar.<br />

Então, era ditadura! (OLIVEIRA, 2011).<br />

Entre a causa dos seus colegas <strong>de</strong> colégio, cujo lema era “Abaixo a Ditadura”, e a<br />

causa do governo militar, cujo lema era “Brasil, ame-o ou <strong>de</strong>ixe-o”, para o qual, por questões<br />

funcionais, via-se obrigado a lutar, Oliveira escolheu a sua própria causa. Uma causa sem<br />

lema, sem nobreza <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ais. Queria simplesmente estudar. Queria reconhecimento<br />

social. Queria conquistar, por méritos próprios – exatamente como quando foi aprovado no<br />

concurso público para a ESA – um reconhecimento social. O antes <strong>de</strong>sacreditado cabo<br />

Oliveira, rotulado <strong>de</strong> analfabeto pelos próprios colegas também cabos (ou, pelo menos, assim<br />

se imaginando, diante daqueles que já tinham o segundo grau completo), agora sargento,<br />

talvez tivesse sentido que podia ser mais. Para isso, precisava <strong>de</strong> um diploma.<br />

Contudo, o ambiente em que pretendia consegui-lo pareceu-lhe hostil. Para penetrar<br />

as limitações sociais que lhes impunham e se ver livre do estigma <strong>de</strong> analfabeto <strong>de</strong>ntro do<br />

quartel, sujeitar-se-ia a outras qualificações, também pouco lisonjeiras, tais como milico,<br />

reacionário, gorila, “<strong>de</strong>do-duro”, no caso <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar claro aos colegas e professores como<br />

ganhava a vida.<br />

Vivera, aliás, um impasse. No universo militar, tivera sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> estigmatizada<br />

pelas suas limitações no campo intelectual; limitações impostas pelas suas condições sociais,<br />

no universo <strong>de</strong> sua vida civil. Por sua vez, para curar-se do estigma, o que <strong>de</strong>veria ser feito<br />

numa instituição civil, corria o risco <strong>de</strong> ter sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> estigmatizada, em outras medidas,<br />

pela simples condição <strong>de</strong> pertencimento à socieda<strong>de</strong> militar. Oliveira não queria ser tratado<br />

como um “analfabeto” <strong>de</strong>ntro do quartel, mas também não pretendia ser um “milico” ou<br />

“gorila”, fora <strong>de</strong>le. A solução encontrada fora a omissão aos seus colegas e professores acerca<br />

do seu ramo <strong>de</strong> negócios. Essa omissão não duraria muito tempo.<br />

Oliveira nunca saía do quartel fardado. Mas teve que participar <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sfile público<br />

em comemoração ao 7 <strong>de</strong> setembro. Na segunda-feira seguinte, ao chegar em sala <strong>de</strong> aula,<br />

“tinha um quepe <strong>de</strong>senhado no quadro negro. Estava escrito assim: 'Olha o chapéu do Adão!”<br />

(OLIVEIRA, 2011). Fora visto, por um <strong>de</strong> seus colegas, fardado no <strong>de</strong>sfile. Segue Oliveira,<br />

com muito bom humor

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!