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Miguel Vicente <strong>de</strong> Paula Oliveira, apelidado <strong>de</strong> Napoleão, que conhecera, no início do século<br />

XX, no Colégio Militar do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Segundo Lott,<br />

176<br />

esse sargento era muito estudioso, falava e lia francês e não tendo família para<br />

sustentar comprava muitos livros. Nós achávamos interessante o seu apego ao<br />

estudo, e ele algumas vezes nos emprestava livros (LOTT, 1978).<br />

O fato <strong>de</strong> a imagem do sargento estar tão vívida na memória daquele velho marechal<br />

parece indicar que aquela postura do sargento leitor <strong>de</strong>veria ser bastante rara em seu tempo.<br />

Em 1950 e 1960, na “época” <strong>de</strong> Abdon, os sargentos com alguma instrução formal já<br />

não eram tão exceção assim. Longe <strong>de</strong> dizer que o caminho da ascensão fora generalizado<br />

entre os sargentos, dadas as suas limitadas oportunida<strong>de</strong>s, mas passou a ser comum encontrar<br />

sargentos em cursos noturnos, universitários. Abdon mesmo é quem diz que<br />

quem tinha interesse, se esforçava como um [incompreensível], foi meu caso e <strong>de</strong><br />

muitos outros, né. Estudar a noite e até <strong>de</strong>pois mais tar<strong>de</strong>, fazer faculda<strong>de</strong>, se formar<br />

e <strong>de</strong>pois cair fora né (LUZ, 2011).<br />

Abdon tinha amigos sargentos que fizeram Administração, Economia, Medicina,<br />

Medicina Veterinária, Odontologia. Ele próprio chegou a prestar vestibular para Odontologia,<br />

mas não teve êxito. Quis também ser médico, mas viu-se obrigado a abdicar <strong>de</strong> seu sonho por<br />

causa das dificulda<strong>de</strong>s que encontrou para estudar: mulher, filha, problemas para encontrar<br />

substitutos para seus serviços noturnos <strong>de</strong> escalas; já que, segundo ele, “cada um corria atrás”<br />

LUZ, 2011).<br />

Segundo Abdon, os óbices não teriam vindo dos seus superiores oficiais ou do<br />

comando da unida<strong>de</strong> em que servia, mas da própria dinâmica particular <strong>de</strong> sua existência. No<br />

seu caso, não teria havido um culpado, nomeável, que o tivesse forçado a abandonar os<br />

estudos. Teria sido vítima apenas da incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerenciar e <strong>de</strong>terminar todas as variáveis<br />

<strong>de</strong> sua vida prática, que colidiam entre si. O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> continuar um projeto <strong>de</strong> ascensão<br />

social fora preterido por outras variáveis, julgadas mais importantes ou irresistivelmente<br />

limitadoras.<br />

Abdon conta que havia estudado e trabalhado por doze anos e, a partir <strong>de</strong> um<br />

<strong>de</strong>terminado momento <strong>de</strong> sua vida, simplesmente tomou “uma <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> só [se] <strong>de</strong>dicar” ao<br />

Exército (LUZ, 2011). Não há uma relação explícita nas palavras <strong>de</strong> Abdon, mas ele nos <strong>de</strong>ixa<br />

pista <strong>de</strong> alguns fatores que o fizeram abandonar os estudos. Segundo ele, a maioria dos

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