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generalizado para com a profissão militar no Exército, mesmo após a República. Edmundo<br />

Campos Coelho afirma que:<br />

42<br />

Não é apenas ao nível das elites políticas que se alojam preconceitos e reservas<br />

quanto à organização militar. Ao nível da massa são as experiências com o serviço<br />

militar as que promovem estereótipos negativos. As causas imediatas sempre foram<br />

as formas violentas com que se fazia o recrutamento militar, o tratamento <strong>de</strong>sumano<br />

que se dispensava ao recruta (…). A prática dos castigos físicos, por exemplo,<br />

prevaleceu até as primeiras décadas do período republicano e contribuía para criar a<br />

imagem do militar como indivíduo grosseiro e violento. É pouco provável, ao<br />

contrário do que afirmam os militares, que a esta época tenha o Exército<br />

<strong>de</strong>sempenhado funções <strong>de</strong> educação cívica. Porque ao jovem recruta, como registrou<br />

em suas memórias um general da República, mostrava-se simultaneamente a<br />

ban<strong>de</strong>ira nacional e as gra<strong>de</strong>s do xadrez (COELHO, 1976, pp. 43-44).<br />

Aqueles mesmos oficiais que sofriam com o preconceito <strong>de</strong> sua profissão, pela<br />

socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> maneira geral, potencializavam e faziam alastrar esse preconceito, contribuindo<br />

para que a massa das classes subalternas tivesse verda<strong>de</strong>iro pavor pelo serviço militar. Os<br />

métodos disciplinares utilizados passavam ao largo do humanitarismo pregado pelos<br />

discursos acerca do “soldado-cidadão”, utilitariamente empregado por parte da oficialida<strong>de</strong><br />

“científica” ainda na Questão Militar pré-republicana (CARVALHO, 2005, p.38-39).<br />

Se o controle da disciplina nas escolas <strong>de</strong> formação dos oficiais era relativamente<br />

frouxo ou inexistente, não havia controle formal, também, da criativida<strong>de</strong> punitiva e do<br />

sadismo no trato com seus inferiores funcionais e sociais, as praças. Afirmava o discurso<br />

oficial que não havia outra maneira <strong>de</strong> manter na linha praças oriundas da escória da<br />

socieda<strong>de</strong>, muitos recrutados à força, com pouca ou nenhuma seleção. Os castigos físicos,<br />

abolidos oficialmente em 1874, mas utilizados até muito mais tar<strong>de</strong> no Exército, seriam<br />

apenas a contrapartida para as inúmeras indisciplinas cometidas pelas praças (CARVALHO,<br />

2005, p. 21).<br />

Analisado pelo lado do cabo do chicote 34 , esse é um ponto a ser consi<strong>de</strong>rado, que, <strong>de</strong><br />

certo modo, po<strong>de</strong>ria legitimar o seu uso e também o da vara <strong>de</strong> marmelo como mantenedores<br />

da disciplina e ferramentas socializantes <strong>de</strong> praças incorrigíveis. 35<br />

34<br />

35<br />

Referência ao notável pensamento machadiano, verbalizado no “filósofo louco <strong>de</strong> Barbacena” Quincas<br />

Borba, <strong>de</strong> que “...o melhor modo <strong>de</strong> apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão”. ASSIS, Machado <strong>de</strong>. Obra<br />

Completa (Quincas Borba).vol. I, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Aguilar, 1994; Disponível em:<br />

http://www.psbnacional.org.br/bib/b301.pdf; Acesso em 15 Mai 2010.<br />

Em 1865, por meio do Decreto nº 3555, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1865 foram criados os Depósitos <strong>de</strong> Disciplina,<br />

lugar que seriam recolhidas “as praças consi<strong>de</strong>radas incorregíveis” [sic]. Em 1879 foi criado um <strong>de</strong>sses<br />

<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> disciplina, na Fortaleza <strong>de</strong> Santa Cruz. Relatório do Ministro da Guerra, José Antônio Correia<br />

da Câmara, relativo ao ano <strong>de</strong> 1879, apresentado à Assembleia Geral Legislativa na 3ª Sessão da 17ª

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