09.01.2015 Views

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

Download tese - Setor de Ciências Humanas UFPR - Universidade ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

se ela fosse do grupo pois historicamente não fora forjada uma tradição <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança dos<br />

sargentos, em relação aos membros <strong>de</strong> seu próprio grupo, e em relação aos soldados. Não<br />

houve coesão suficiente, no grupo dos sargentos, para que cada um <strong>de</strong> seus membros pu<strong>de</strong>sse<br />

se sentir responsáveis, uns pelos outros, em suas ações <strong>de</strong>sonrosas ao bom nome do grupo. A<br />

coesão sempre fora característica dos “estabelecidos” oficiais. A <strong>de</strong>pendência do grupo dos<br />

sargentos em relação ao grupo dos oficiais, <strong>de</strong>ssa forma, é mantida até mesmo no sentido <strong>de</strong><br />

empreen<strong>de</strong>r a harmonia do próprio grupo dos sargentos, incapaz <strong>de</strong> ser organizar por si<br />

próprio.<br />

Esse mo<strong>de</strong>lo relacional correspon<strong>de</strong> ao mo<strong>de</strong>lo figuracional proposto por Elias,<br />

quanto às relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre grupos consi<strong>de</strong>rados rivais, numa figuração <strong>de</strong><br />

“estabelecidos e outsi<strong>de</strong>rs”. A exclusão e a estigmatização dos “outsi<strong>de</strong>rs” pelos<br />

“estabelecidos” são armas para que estes últimos preservem sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e afirmem sua<br />

superiorida<strong>de</strong>, mantendo os outros em seu lugar. Como já citado aqui, na socieda<strong>de</strong> que lhe<br />

fora objeto <strong>de</strong> pesquisa, o grupo estabelecido dispunha <strong>de</strong> um índice <strong>de</strong> coesão mais alto que<br />

o do grupo outsi<strong>de</strong>r, e essa integração diferencial contribuía para que houvesse um exce<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r para os estabelecidos. Sua maior coesão permitia que o grupo reservasse para seus<br />

membros as posições sociais com potenciais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r maior que os outros, o que reforçava<br />

ainda mais sua posição e excluía <strong>de</strong>ssas posições os membros do outro grupo (ELIAS, 2000,<br />

p. 22)<br />

Do mesmo modo, no caso do Exército Brasileiro, a falta <strong>de</strong> coesão do grupo dos<br />

sargentos, e muito mais no grupo dos cabos e dos soldados, seria <strong>de</strong> suma importância para a<br />

manutenção do status quo <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong> do grupo dos oficiais, porque mantém os<br />

sargentos afastados <strong>de</strong> posições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro do sistema disciplinar, diminuindo-lhes,<br />

ainda, as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazerem reivindicações consistentes, pois, sem coesão, não há uma<br />

“coletivida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> sargentos, e sim inúmeros contingentes <strong>de</strong> sargentos em cada uma das<br />

unida<strong>de</strong>s do Exército, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>sconectados entre si. A fundação <strong>de</strong> uma associação<br />

<strong>de</strong> praças foi um passo no sentido oposto e, por isso, tão combatido pela oficialida<strong>de</strong>. Mesmo<br />

havendo um peso muito pequeno da associação <strong>de</strong> praças em relação às <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

do Exército, por possuir um número pouco significativo <strong>de</strong> associados, o fato <strong>de</strong> se constituir<br />

em pessoa jurídica, <strong>de</strong>termina, via <strong>de</strong> regra, uma relativa autonomia em relação ao Exército, e<br />

um suporte <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r para o grupo que ela representa. O cientista político, e coronel do<br />

Exército, Paulo Roberto Loyolla Kuhlmann acredita que houve uma interseção entre o <strong>de</strong>sejo<br />

293

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!