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ealizarem o policiamento das estradas, por <strong>de</strong>z ou quinze dias ininterruptos. Essas barreiras<br />

prosseguiram até entrar no ano <strong>de</strong> 1965.<br />

Se os inimigos políticos e i<strong>de</strong>ológicos da conservadora cúpula militar foram com<br />

dificulda<strong>de</strong> conhecidos, o conhecimento acerca dos inimigos, por parte dos militares da ponta<br />

da linha e a potencialida<strong>de</strong> lesiva dos legalistas (agora já consi<strong>de</strong>rados rebel<strong>de</strong>s) precisariam<br />

ser constantemente reforçados e ressignificados. Nesse momento, os mitos políticos e<br />

militares se forjam, muitos a partir <strong>de</strong> fatos concretos, outros a partir <strong>de</strong> boatos anônimos, que<br />

se difun<strong>de</strong>m velozmente e vão se modificando e multiplicando, não sem algum sacrifício dos<br />

quesitos racionalida<strong>de</strong> e plausibilida<strong>de</strong>.<br />

Segundo Barriles, “a gente tinha que estar pronto para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r. Porque houve várias<br />

prisões, mas, numa região lá da fronteira com a Argentina, existiam grupos, existiam<br />

<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> alimentos” (BARRILES, 2011). Alimentos até fornecidos, comprados dos<br />

Estados Unidos, enviados para doação e <strong>de</strong>sviados para esses <strong>de</strong>pósitos “no mato”, para<br />

prover esses grupos rebel<strong>de</strong>s, caso houvesse uma luta armada (BARRILES, 2011).<br />

Desta feita, o início da vida militar <strong>de</strong> Barriles, entre 1964 e 1969, fora tomado pelas<br />

“barreiras” e as perseguições a Leonel Brizola, exilado no Uruguai. Corria-se o boato,<br />

contudo, <strong>de</strong> que “o Brizola iria entrar pela Argentina. Então a gente policiava aquelas<br />

fronteiras ali, <strong>de</strong>z dias, quinze dias” (BARRILES, 2011)<br />

Na socialização militar inicial <strong>de</strong> Barriles, há uma correlação <strong>de</strong> íntima<br />

inter<strong>de</strong>pendência entre vários elementos. Muitos <strong>de</strong>les presentes em outras instituições totais.<br />

Mas muitos <strong>de</strong>les, também, foram específicos do Exército, naquele período, com<br />

prolongamento por mais <strong>de</strong> 20 anos <strong>de</strong>pois. Barriles fora socializado militarmente permeado<br />

por elementos tais como apartamento social e a<strong>de</strong>nsamento i<strong>de</strong>ntitário inicial; a construção<br />

mitológica <strong>de</strong> dados e informes, políticos e militares, e a sua divulgação, ou por meios oficiais<br />

ou oficiosos, pelo boca a boca entre os militares; a formação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> policializada<br />

para si; a formação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> para um inimigo coletivo (os grupos da fronteira) e um<br />

individual (Brizola), que supostamente <strong>de</strong>fendiam a causa “inimiga”, o comunismo. 298<br />

190<br />

298 A construção do “comunista” Brizola fora bastante conveniente, no sentido <strong>de</strong> angariar o apoio popular<br />

gaúcho ao golpe, tentando convencer a população da nobre causa que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou o golpe e as posteriores<br />

perseguições. O próprio General Olympio Mourão Filho tinha a certeza <strong>de</strong> que Brizola não era comunista<br />

(MOURÃO FILHO, 1978, p. 258). O <strong>de</strong>poente Adão Barriles, por sua vez, tem a plena convicção do<br />

contrário. Ele diz que “O Brizola tinha i<strong>de</strong>ia comunista mesmo! Era comunista! Era o que ele queria, igual o<br />

Hugo Chavez tá fazendo. Era o mesmo que ele queria. Era ser um Hugo Chávez. Porque ele tinha aquela<br />

influência do Fi<strong>de</strong>l Castro, que se <strong>de</strong>u bem lá em Cuba, aquela coisa toda. Com a União Soviética.”<br />

(BARRILES, 2011).

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