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problema aqui que a gente possa resolver, o senhor fala comigo que eu falo para alguns<br />

amigos meus lá em Brasília, e a gente resolve isso aí.” Orgulhoso, arremata Oliveira que “a<br />

partir daquele dia eu era tratado como rei (risos). Até gasolina no posto eu pegava”<br />

(OLIVEIRA, 2011).<br />

Noutro episódio, este bem mais recente, já nos anos <strong>de</strong> 1980, quando era sargentoajudante<br />

do Colégio Militar, o <strong>de</strong>poente narra que um tenente havia solicitado a prisão <strong>de</strong> um<br />

soldado, que não conseguia <strong>de</strong>smontar uma metralhadora. Oliveira replicou a intenção do<br />

tenente afirmando que seria bem mais provável que o soldado não houvesse aprendido a<br />

<strong>de</strong>smontá-la, por inabilida<strong>de</strong> do instrutor. Refutado, o tenente recuou <strong>de</strong> sua posição e não<br />

puniu o soldado (OLIVEIRA, 2011).<br />

Aliás, pelo que conta o <strong>de</strong>poente, essa não seria a única vez em que interce<strong>de</strong>ra por<br />

um soldado junto a um oficial. Ainda quando era sargento-ajudante no Colégio Militar, um<br />

recruta havia lhe contado que seria arrimo <strong>de</strong> família e havia incorporado, mesmo tendo<br />

<strong>de</strong>clarado a situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência econômica <strong>de</strong> seus pais em relação à sua força <strong>de</strong><br />

trabalho. 343 Um soldado recruta, à época, recebia apenas um vencimento simbólico, em<br />

caráter <strong>de</strong> ajuda <strong>de</strong> custo, que não ultrapassava <strong>de</strong> meio salário mínimo. Esse recruta, então,<br />

vira-se obrigado a começar a faltar ao expediente para acrescentar na renda familiar,<br />

trabalhando <strong>de</strong> mecânico <strong>de</strong> automóveis em sua cida<strong>de</strong> natal, no interior do Paraná.<br />

As punições do soldado começaram a se multiplicar e Oliveira solicitou ao seu chefe,<br />

um capitão, que segundo o <strong>de</strong>poente, era “cabeça... legal pra chuchu” (OLIVEIRA, 2011),<br />

que mandasse fazer uma sindicância sumária acerca da veracida<strong>de</strong> das informações passadas<br />

pelo soldado. Tudo confirmado, o soldado fora licenciado.<br />

Aliás, parece que eram muitas as oportunida<strong>de</strong>s em que um diálogo mais próximo<br />

entre oficiais e sargentos podia encarregar-se <strong>de</strong> corrigir injustiças provocadas pela rigi<strong>de</strong>z do<br />

trato disciplinar, tanto para um lado como para outro. Novamente, o livro <strong>de</strong> Virgílio da Veiga<br />

ajuda-nos a ilustrar esse diálogo relativamente aproximado entre oficiais e sargentos, em que<br />

os soldados aparecem como protagonistas. Em sua narrativa, dois soldados bêbados haviam<br />

quebrado um estabelecimento e, por isso, enquanto aguardava reforços do quartel, foram<br />

amarrados por um sargento. O capitão, ao chegar, heroicamente mandou <strong>de</strong>samarrar os<br />

soldados (VEIGA, 1989, p. 150).<br />

241<br />

343 O inciso f, do artigo nº 30 da Lei do Serviço Militar, <strong>de</strong> 1964, estabelecia que <strong>de</strong>veriam ser dispensados da<br />

incorporação os arrimos <strong>de</strong> família. Ver: Lei nº 4.375, <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1964. Disponível em:<br />

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4375.htm; Acesso em: 21 Jan 2009.

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