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sargentos por todo o país e a sua crescente politização, sendo influentes o suficiente para<br />

elegerem sargentos que os representassem nas assembleias estaduais 368 e, também, no<br />

congresso nacional, precisamente conclamando a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos para todos os<br />

cidadãos, 369 a parcela conservadora da alta oficialida<strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciou para que se diminuíssem<br />

ao máximo as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> os sargentos terem algum tipo <strong>de</strong> ascensão funcional <strong>de</strong>ntro<br />

da organização do Exército, <strong>de</strong>saprovando e repelindo aqueles que, individualmente, tinham<br />

pretensões maiores do que bem servir ao Exército com sua força física. Certamente que<br />

<strong>de</strong>terminados regalos, simbólicos e materiais, controladamente distribuídos, também fizeram<br />

parte da estratégia da alta oficialida<strong>de</strong> na dominação dos sargentos.<br />

Numa leitura cáustica <strong>de</strong>ssa época, o coronel Nelson Werneck Sodré, a respeito da<br />

relação entre a alta oficialida<strong>de</strong> e os sargentos dos anos posteriores a 1964, comenta que<br />

299<br />

Neutralizar a influência dos sargentos, <strong>de</strong>struir as formas <strong>de</strong> organização que haviam<br />

alcançado, isolar os elementos mais <strong>de</strong>stacados na resistência aos <strong>de</strong>smandos dos<br />

ministros subversivos, impor uma disciplina rígida <strong>de</strong> obediência, <strong>de</strong>purar o quadro<br />

<strong>de</strong> sargentos e exercer sobre ele estreita vigilância, passaram a ser as gran<strong>de</strong>s<br />

preocupações da cúpula militar, on<strong>de</strong> os elementos golpistas permaneciam em<br />

paradoxo aparente. É variada e numerosa a série <strong>de</strong> fatos que assinalam a anomalia<br />

curiosa: vencidos pareciam vencedores, os militares que haviam assegurado a<br />

continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática passavam a ser perseguidos e marcados como elementos<br />

perigosos, particularmente os sargentos. [...] Em torno dos sargentos, a suspeição era<br />

generalizada e profunda. Em vez <strong>de</strong> encarar a participação dos sargentos na crise,<br />

coma as formas que apresentava, como um indício veemente <strong>de</strong> positivo avanço,<br />

como <strong>de</strong>monstração concreta <strong>de</strong> consciência, benéfica às Forças Armadas, tônica<br />

para a estrutura militar, colocada a disciplina em sua exata conceituação, as<br />

autorida<strong>de</strong>s encaravam tudo isso como terrível realida<strong>de</strong>, que exigia severas<br />

providências acauteladoras da ‘or<strong>de</strong>m pública’. Sargento pensar, sargento estudar,<br />

sargento participar, sargento ter direitos <strong>de</strong> julgamento pareceram formas<br />

subversivas, a que era necessário aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> pronto, não no sentido <strong>de</strong> encaminhálas,<br />

<strong>de</strong> colocá-las a serviço da estrutura militar e do país, mas no sentido <strong>de</strong> reprimilas,<br />

<strong>de</strong> vigiá-las, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rá-las marginais e con<strong>de</strong>náveis (SODRÉ, 1968, pp. 384-<br />

385).<br />

Funcionalmente, pelo Exército, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passadas as causas <strong>de</strong>sse bloqueio<br />

em relação a alguns aspectos i<strong>de</strong>ntitários dos sargentos, particularmente quanto à sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir, julgar e exprimir opiniões consi<strong>de</strong>radas válidas a respeito <strong>de</strong> sua<br />

realida<strong>de</strong>, foi mantido um mesmo arcabouço. Um arcabouço historicamente construído, já que<br />

o grupo dos sargentos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pelo menos o final do Império, não era consi<strong>de</strong>rado sequer como<br />

368 Foi o caso do sargento eleito para a Câmara dos Deputados do estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Aimoré Zoch<br />

Cavalheiro e do outro sargento eleito para a Câmara dos Vereadores <strong>de</strong> São Paulo, Edgar Nogueira Borges,<br />

que foram impedidos <strong>de</strong> tomarem posse, por uma normatização constitucional pouco explícita, sendo o<br />

estopim para a causa da chamada Revolta dos Sargentos <strong>de</strong> Brasília, ocorrida em 12 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1963.<br />

369 O caso mais conhecido foi o do Deputado Fe<strong>de</strong>ral Antônio Garcia Filho, do PTB da Guanabara.

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