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<strong>de</strong>sempenharia importante papel na construção <strong>de</strong> um orgulho próprio, por ter galgado ao<br />

oficialato. Não fosse esse orgulho, não cometeria o ato falho <strong>de</strong> confundir as divisas <strong>de</strong><br />

sargentos com as “estrelinhas” nem teria mencionado sua condição <strong>de</strong> ter atingido o oficialato<br />

em seis oportunida<strong>de</strong>s (LUZ, 2011).<br />

Mas o orgulho que Abdon menciona fora somente por sua condição <strong>de</strong> “oficial”. Não<br />

menciona, em nenhum trecho, sua condição <strong>de</strong> tenente ou capitão. Até quando se refere a<br />

datas <strong>de</strong> promoções, ao invés <strong>de</strong> se referir aos postos, refere-se ao círculo: “nem a <strong>de</strong> oficial<br />

eu me lembro direito.” 273 É ele o termo distintivo em relação ao praça. É ele que atrela atrás<br />

<strong>de</strong> si toda uma carga simbólica <strong>de</strong> distinção social em relação aos sargentos, seja no uso <strong>de</strong><br />

espadas em solenida<strong>de</strong>s militares seja no uso da platina com o símbolo do posto nos ombros,<br />

em vez <strong>de</strong> carregar as divisas nos braços. Os uniformes e seus apetrechos, <strong>de</strong> um modo geral,<br />

são diferenciados.<br />

As casas do Exército, chamadas <strong>de</strong> Próprios Nacionais Resi<strong>de</strong>nciais (PNR), também<br />

possuem padrões <strong>de</strong> construção diferenciados entre oficiais e sargentos. Os salários e outros<br />

tipos <strong>de</strong> remuneração também são diferenciados. Inúmeras regalias são dadas aos oficiais,<br />

simplesmente por sê-lo. “Os oficiais eram a elite né...bom... tinha que ser também né.” 274<br />

Contudo, o fato <strong>de</strong> não ter se lembrado do ano <strong>de</strong> sua promoção a qualquer um dos<br />

postos do oficialato parece ser um bom indício <strong>de</strong> que, em termos <strong>de</strong> sentimento que<br />

implicariam em euforia ou orgulho, a conquista do status <strong>de</strong> 3º sargento havia sido bem mais<br />

relevante que a ascensão ao oficialato. A divisa <strong>de</strong> 3º sargento havia sido conquistada<br />

ativamente pela realização <strong>de</strong> um curso e <strong>de</strong>pois ativamente pela sua intercessão junto ao S/3<br />

do batalhão on<strong>de</strong> servia. Talvez isso lhe tenha dado um retorno psicológico ao ultrapassar a<br />

barreira entre os círculos hierárquicos e a<strong>de</strong>ntrar na figuração dos sargentos. Em<br />

contrapartida, o rompimento da barreira entre os círculos dos sargentos e dos oficiais, com as<br />

suas promoções já no oficialato, aconteceu por mera resignação à passagem do tempo e à<br />

subordinação à dinâmica disciplinar do Exército. Parece não ter havido muito orgulho em<br />

receber passivamente e sem glória as promoções, “conforme estava programado para nós”. 275<br />

Ainda como cabo, resignou-se diante do fato <strong>de</strong> ter que ser transferido <strong>de</strong> sua região<br />

natal, a fim <strong>de</strong> ver-se promovido a 3º sargento. Na época, fora categórico: “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que saia<br />

162<br />

273 I<strong>de</strong>m.<br />

274 I<strong>de</strong>m.<br />

275 I<strong>de</strong>m.

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