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confirmando o fato <strong>de</strong> que a autoimagem do grupo estabelecido ten<strong>de</strong> a se mo<strong>de</strong>lar mais<br />

normativo, na minoria dos seus melhores membros (ELIAS, 2000, p. 23).<br />

Melhores membros que, <strong>de</strong> um modo ou <strong>de</strong> outro, acabaram burlando as amarras<br />

sociais nas quais eram presos, muito possivelmente <strong>de</strong>vido aos utensílios diferenciados,<br />

adquiridos em sua socialização primária junto à família. Com isso, pu<strong>de</strong>ram impelir as<br />

fronteiras <strong>de</strong> seu lugar social a uma distância capaz <strong>de</strong> subverter as limitações originais <strong>de</strong><br />

suas futuras opções, já na vida adulta.<br />

Mas estes não eram a maioria dos sargentos. A maioria era, sim, relativamente<br />

inculta e vinha <strong>de</strong> um grupo social originalmente <strong>de</strong>sprovido da utensilagem da boa educação<br />

e das <strong>de</strong>licadas afetações cor<strong>tese</strong>s, esperadas como características <strong>de</strong> conduta <strong>de</strong> um estrato,<br />

que perseguia um mínimo reconhecimento e respeito, por estar em vias <strong>de</strong> ascensão social.<br />

154<br />

b. Sociabilida<strong>de</strong>s e moralida<strong>de</strong><br />

Sem que houvesse necessariamente uma relação, ainda que indireta, o nível<br />

educacional formal da maioria dos sargentos parecia relacionar-se com as senhas <strong>de</strong> distinção<br />

social <strong>de</strong> seus familiares. Quando Abdon fora presi<strong>de</strong>nte do Grêmio dos Subtenentes e<br />

Sargentos do 20º Batalhão <strong>de</strong> Infantaria Blindada (20º BIB), havia a promoção <strong>de</strong> jantares, e<br />

conta ele que<br />

a gente costumava fazer lá fora, no Pinheirão, noutra casa assim, um pouco mais, era<br />

mais sofisticado o ambiente, pra levar o pessoal. Tinham mulheres ali que nunca<br />

tinham entrado <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um restaurante, meu Deus, né, foi pela primeira vez,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um restaurante. Tinham esposas <strong>de</strong> militares ali que nunca sequer um dia<br />

foram num jantar dançante, a gente levou esse pessoal, olha vamos dançar lá, jantar<br />

e dançar, fazer a festa (LUZ, 2011).<br />

A não frequência a esses ambientes <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> significava, na ótica <strong>de</strong> Abdon,<br />

uma simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> costumes <strong>de</strong> uma classe social inferior, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saía a massa dos<br />

sargentos e suas esposas. Desse modo, o baixo padrão social acabava por coincidir com o<br />

baixo grau <strong>de</strong> estudos formais da gran<strong>de</strong> maioria dos sargentos. A promoção <strong>de</strong>sses jantares<br />

parecia significar, para Abdon Luz, uma inserção <strong>de</strong>ssas pessoas a novos hábitos <strong>de</strong> uma<br />

classe média, aos quais pensavam estar a<strong>de</strong>ntrando. Seria uma forma <strong>de</strong> homogeneizar os<br />

hábitos dos novos ingressos na figuração dos sargentos com os antigos já socializados<br />

sabe que houve sargentos administradores, <strong>de</strong>ntistas, etc. (LUZ, 2011).

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