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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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correspon<strong>de</strong>ria à <strong>da</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma moto em termos <strong>de</strong> suas funções.<br />

Os termos “existe”, “é igual a” e “implica em” produzem estruturas<br />

diversas. Essas estruturas normalmente se inter-relacionam<br />

<strong>de</strong> maneiras e formas tão complexas e numerosas que ninguém<br />

po<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r mais do que uma pequena p<strong>arte</strong> <strong>de</strong>las durante a sua<br />

vi<strong>da</strong>. A <strong>de</strong>nominação geral <strong>de</strong>ssas estruturas, o gênero do qual a<br />

hierarquia <strong>de</strong> inclusão e a estrutura <strong>de</strong> causação são apenas espécies,<br />

é o sistema. A motocicleta é um sistema. Um sistema real.<br />

Chamar certas instituições governamentais e culturais <strong>de</strong><br />

“sistema” é correto, uma vez que essas organizações se baseiam<br />

nas mesmas relações conceituais estruturais que as <strong>motocicletas</strong>.<br />

São sustenta<strong>da</strong>s por relações estruturais, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haverem<br />

perdido qualquer outro significado ou objetivo. As pessoas<br />

chegam a uma fábrica e realizam um serviço completamente isento<br />

<strong>de</strong> significado <strong>da</strong>s oito às cinco, sem questionamentos, porque a<br />

estrutura o exige. Não há vilões, “intermediários”, que querem que<br />

eles levem vi<strong>da</strong>s sem sentido; é que a estrutura, o sistema o exige,<br />

e ninguém quer se <strong>da</strong>r ao trabalho formidável <strong>de</strong> modificar a estrutura<br />

só porque ela não faz sentido.<br />

Entretanto, <strong>de</strong>struir uma fábrica, revoltar-se contra um governo,<br />

ou recusar-se a consertar uma motocicleta porque ela é um<br />

sistema é o mesmo que atacar os efeitos ao invés <strong>da</strong>s causas. E<br />

enquanto se atacarem os efeitos ao invés <strong>da</strong>s causas, não haverá<br />

mu<strong>da</strong>nça nenhuma. O ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro sistema é o nosso próprio mo<strong>de</strong>lo<br />

atual <strong>de</strong> pensamento sistemático, a própria racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Se<br />

<strong>de</strong>struirmos uma fábrica, sem aniquilar a racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> que a produziu,<br />

essa racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> simplesmente produzirá outra fábrica<br />

igual. Se uma revolução <strong>de</strong>rrubar um governo sistemático, mas<br />

conservar os padrões sistemáticos <strong>de</strong> pensamento que o produziram,<br />

tais padrões se repetirão no governo seguinte. Fala-se tanto<br />

sobre o sistema, e tão pouco se enten<strong>de</strong> a seu respeito.<br />

A motocicleta é isso, um sistema <strong>de</strong> idéias mol<strong>da</strong>do em aço.<br />

Nela não há peças nem formas que não sejam fruto do pensamento<br />

<strong>de</strong> alguém... O terceiro tucho também está em or<strong>de</strong>m. Só resta<br />

mais um. E melhor que seja esse... Percebi que aqueles que nunca<br />

trabalharam com aço têm dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> enxergar que a motocicleta<br />

é, antes <strong>de</strong> mais na<strong>da</strong>, um fenômeno mental. Eles associam<br />

o metal a <strong>de</strong>terminas formas ─ canos, bielas, travas, ferramentas,<br />

peças ─ to<strong>da</strong>s fixas e invioláveis, encara<strong>da</strong>s como essencialmente<br />

físicas. Mas para quem trabalha com mecânica, cal<strong>de</strong>iraria, forja<br />

ou sol<strong>da</strong>gem, o “aço” não tem forma alguma. O aço po<strong>de</strong> tomar<br />

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