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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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Ele começa a prestar atenção. Sente que vai acontecer alguma<br />

coisa.<br />

─ Chris, seu pai sofreu <strong>de</strong> loucura durante muito tempo. E<br />

agora está a ponto <strong>de</strong> ter outra crise.<br />

E ela não está apenas prestes a chegar. Já chegou. O fundo<br />

do oceano.<br />

─ Não vou man<strong>da</strong>r você para casa porque estou zangado com<br />

você, mas porque tenho medo do que possa acontecer se eu continuar<br />

a cui<strong>da</strong>r <strong>de</strong> você.<br />

Ele não mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> expressão, não consegue enten<strong>de</strong>r do que<br />

estou falando.<br />

─ A gente vai ter que se <strong>de</strong>spedir, Chris, e não sei se a gente<br />

ain<strong>da</strong> vai tornar a se ver.<br />

Pronto. Eu já disse o que queria. O resto vai prosseguir espontaneamente.<br />

Ele me olha <strong>de</strong> um jeito muito esquisito. Creio que ain<strong>da</strong> não<br />

compreen<strong>de</strong>u... Esse olhar fixo... Eu já vi em algum lugar... Em<br />

algum lugar... Algum lugar....<br />

Em meio à névoa <strong>de</strong> uma manhã, nos pântanos, certa vez<br />

apanhei um patinho, um marreco, que me fitou assim... Atirei nas<br />

asas <strong>de</strong>le, <strong>de</strong> modo que ele não pu<strong>de</strong>sse mais voar, <strong>de</strong>pois corri e<br />

o agarrei pelo pescoço. Antes <strong>de</strong> matá-lo, porém, <strong>de</strong>tive-me e, sentindo<br />

a presença <strong>de</strong> um mistério do universo, olhei-o nos olhos,<br />

que me fitavam assim. Desse jeito tranqüilo, inexpressivo... E, no<br />

entanto, tão consciente. Aí, tapei os olhinhos <strong>de</strong>le com as mãos e<br />

torci-lhe o pescoço até senti-lo estalar entre os <strong>de</strong>dos...<br />

Depois, abri a mão. Os olhos ain<strong>da</strong> me fixavam, mas sem ver<br />

mais na<strong>da</strong>, sem acompanhar mais meus movimentos.<br />

─ Chris, eles dizem que você está enlouquecendo também.<br />

Ele continua me fitando.<br />

─ Que você está com a cabeça cheia <strong>de</strong> problemas.<br />

Ele abana a cabeça.<br />

─ Esses problemas parecem reais, mas não são.<br />

Os olhos <strong>de</strong>le se arregalam, enquanto ele nega com a cabeça,<br />

apesar <strong>de</strong> já ter compreendido.<br />

─ As coisas foram <strong>de</strong> mal a pior. Problemas na escola, problemas<br />

com os vizinhos, problemas com a família, problemas com<br />

os amigos... Problemas por todos os lados. Chris, eu era o único<br />

que ignorava esses problemas, eu dizia que você estava bem. Agora<br />

você não vai ter mais ninguém para fazer isso. Está enten<strong>de</strong>ndo?<br />

Ele me fita, completamente aturdido, os olhos ain<strong>da</strong> em mo-<br />

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