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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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ouvir uma canção. Ele é, <strong>de</strong> fato, um excelente homem-dos-seteinstrumentos;<br />

tem uma aretê excepcional.<br />

“A aretê implica no respeito pela integri<strong>da</strong><strong>de</strong> e unici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, e, conseqüentemente, no <strong>de</strong>sprezo pela especialização. Implica<br />

no <strong>de</strong>sprezo pela eficiência ─ ou antes, numa idéia muito mais<br />

eleva<strong>da</strong> <strong>de</strong> eficiência, que existe não só em um aspecto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>,<br />

mas na vi<strong>da</strong> em si mesma.”<br />

Fedro lembrou-se <strong>de</strong> um trecho <strong>de</strong> Thoreau: “Nunca se ganha<br />

na<strong>da</strong> sem per<strong>de</strong>r alguma coisa.” E então começou a compreen<strong>de</strong>r<br />

pela primeira vez a inacreditável magnitu<strong>de</strong> <strong>da</strong>quilo que o homem,<br />

ao adquirir o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r e governar o mundo em termos<br />

<strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s analíticas, havia perdido. Ele construíra impérios <strong>de</strong><br />

capacitação científica para manipular os fenômenos <strong>da</strong> natureza,<br />

transformando-os em monstruosas manifestações <strong>de</strong> seus próprios<br />

sonhos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>de</strong> riqueza ─ no entanto, para conquistar isso,<br />

tivera que ce<strong>de</strong>r um império <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> igual magnitu<strong>de</strong>:<br />

a compreensão do que seja fazer p<strong>arte</strong> do mundo, e não ser um<br />

inimigo <strong>de</strong>le.<br />

Po<strong>de</strong>-se adquirir um pouco <strong>de</strong> paz <strong>de</strong> espírito apenas contemplando<br />

aquele horizonte. É uma linha traça<strong>da</strong> por um geômetra...<br />

Completamente regular, firme e conheci<strong>da</strong>. Talvez seja a linha original<br />

que inspirou Eucli<strong>de</strong>s na compreensão do comportamento<br />

<strong>da</strong>s retas; uma linha <strong>de</strong> referência, que originou os primeiros cálculos<br />

dos primeiros astrônomos que elaboraram mapas celestes.<br />

Fedro sabia, com a mesma certeza matemática senti<strong>da</strong> por<br />

Poincaré ao resolver as equações fuschianas, que aquela aretê grega<br />

era a peça que estava faltando no quebra-cabeça. Mas, mesmo<br />

assim, continuou a leitura, a título <strong>de</strong> complementação.<br />

Agora, a auréola que pairava sobre a cabeça <strong>de</strong> Platão e Sócrates<br />

se <strong>de</strong>svaneceu por completo. Fedro percebe que eles vivem<br />

fa<strong>zen</strong>do o mesmo <strong>de</strong> que acusam os sofistas ─ usando uma linguagem<br />

emotiva, com fins <strong>de</strong> persuasão, para fazer com que o argumento<br />

mais fraco, a <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> dialética, pareça ser o mais forte.<br />

Sempre con<strong>de</strong>namos nos outros aquilo que mais tememos em nós<br />

mesmos, pensa ele.<br />

Mas por quê? Por que <strong>de</strong>struir a aretê? E imediatamente lhe<br />

ocorre uma resposta. Platão não havia tentado <strong>de</strong>struir a aretê.<br />

Havia-a simplesmente confinado, transformado em uma idéia permanente,<br />

fixa, convertido numa Ver<strong>da</strong><strong>de</strong> Imortal rígi<strong>da</strong> e imóvel.<br />

Criou a aretê do “Bem”, a forma mais sublime, a Idéia mais sublime<br />

<strong>de</strong> to<strong>da</strong>s, subordina<strong>da</strong> apenas à própria Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, numa síntese <strong>de</strong><br />

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