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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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ta força. Avisei-o para não apertar as porcas com a chave <strong>de</strong> boca<br />

ajustável, porque era capaz <strong>de</strong> estragar o cromo e <strong>da</strong>r origem a<br />

pequenos pontos <strong>de</strong> ferrugem. Ele concordou em usar meu jogo <strong>de</strong><br />

chaves <strong>de</strong> estria métrica.<br />

Quando ele trouxe a motocicleta, peguei minhas ferramentas,<br />

mas notei que o <strong>de</strong>slizamento não ia parar com um simples ajuste,<br />

porque as extremi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos anéis estavam bem uni<strong>da</strong>s.<br />

─ Você vai ter que pôr um calço nesses anéis ─ disse eu.<br />

─ O que é um calço?<br />

─ É uma tira fina e lisa <strong>de</strong> metal. E só enrolá-la no guidom<br />

sob o anel, assim, que ela aumenta o anel, <strong>de</strong> modo que você possa<br />

apertá-lo novamente. Esses calços são usados para ajustar as mais<br />

diversas máquinas.<br />

─ Ah! ─ disse ele. Estava começando a se interessar. ─ Legal.<br />

On<strong>de</strong> é que a gente compra isso?<br />

─ Não precisa comprar, aqui já tem um ─ respondi, exultante,<br />

erguendo uma lata <strong>de</strong> cerveja.<br />

Ele levou uns instantes para enten<strong>de</strong>r.<br />

─ Espere aí. Essa lata ?<br />

─ Claro. É o melhor material para calços que há no mundo.<br />

Parecia-me uma solução muito inteligente. Afinal, eu o estava<br />

poupando <strong>de</strong> ir até on<strong>de</strong> Ju<strong>da</strong>s per<strong>de</strong>u as botas para comprar um<br />

punhado <strong>de</strong> calços. Era economizar tempo e dinheiro.<br />

Surpreen<strong>de</strong>ntemente, porém, ele não percebeu a minha intenção.<br />

Aliás, assumiu uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> notório <strong>de</strong>sprezo em relação<br />

ao assunto. Num instante tirou o corpo fora, inventou mil <strong>de</strong>sculpas<br />

e, antes que eu pu<strong>de</strong>sse perceber qual era a sua ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira<br />

intenção, havíamos <strong>de</strong>cidido <strong>de</strong>ixar o guidom como estava.<br />

Pelo que sei, o guidom continua frouxo. Acho que na época<br />

ele chegou até a se ofen<strong>de</strong>r. Eu tivera a audácia <strong>de</strong> sugerir que ele<br />

consertasse a sua BMW <strong>de</strong> oitocentos dólares, o orgulho <strong>de</strong> meio<br />

século <strong>de</strong> tecnologia alemã, com uma tira <strong>de</strong> lata <strong>de</strong> cerveja!<br />

Ach, du lieber<br />

Des<strong>de</strong> então, conversamos muito pouco sobre <strong>manutenção</strong><br />

<strong>de</strong> <strong>motocicletas</strong>. Aliás, pensando bem, não conversamos.<br />

E só insistir no assunto, que <strong>de</strong> repente a gente <strong>de</strong>scobre que<br />

já se zangou, sem nem saber por quê.<br />

Devo acrescentar, a título <strong>de</strong> explicação, que o alumínio <strong>da</strong>s<br />

latas <strong>de</strong> cerveja é tão maleável e a<strong>de</strong>rente quanto possível, para um<br />

metal. É perfeito para o uso em questão. O alumínio não se oxi<strong>da</strong><br />

no tempo úmido ─ ou melhor, já vem com uma fina cama<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

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