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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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es. Diminuo o passo, mas logo percebo que ele está molengando<br />

<strong>de</strong> propósito. Com certeza está <strong>de</strong>cepcionado.<br />

Acho que eu <strong>de</strong>veria, nesta chautauqua, indicar apenas resumi<strong>da</strong>mente<br />

a direção toma<strong>da</strong> por Fedro, sem fazer comentários<br />

a respeito, e <strong>de</strong>pois apresentar minhas idéias. Creiam-me, quando<br />

se encara o mundo não como uma duali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> matéria e espírito,<br />

mas como uma trin<strong>da</strong><strong>de</strong> composta <strong>de</strong> mente, matéria e quali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

a <strong>arte</strong> <strong>da</strong> <strong>manutenção</strong> <strong>de</strong> <strong>motocicletas</strong> e outras <strong>arte</strong>s assumem<br />

uma dimensão que jamais possuíram. O espectro <strong>da</strong> tecnologia<br />

<strong>de</strong> que os Sutherlands estão fugindo transforma-se não num mal,<br />

mas em algo positivo e interessante. E <strong>de</strong>monstrar isso será uma<br />

tarefa diverti<strong>da</strong> e <strong>de</strong>mora<strong>da</strong>.<br />

Mas antes, para me livrar <strong>da</strong>quele outro espectro, <strong>de</strong>vo dizer<br />

certas coisas.<br />

Talvez ele tivesse seguido o caminho que estou para tomar,<br />

se aquela segun<strong>da</strong> on<strong>da</strong> <strong>de</strong> cristalização, a on<strong>da</strong> metafísica, tivesse<br />

<strong>da</strong>do nas praias para on<strong>de</strong> a estou dirigindo, isto é, no mundo <strong>de</strong><br />

hoje. Creio que a metafísica é positiva na medi<strong>da</strong> em que aprimora<br />

a vi<strong>da</strong> cotidiana; senão, nem vale a pena <strong>de</strong>dicar-se a ela. Infelizmente,<br />

a on<strong>da</strong> <strong>de</strong>le não chegou à praia. Transformou-se numa<br />

terceira on<strong>da</strong> mística <strong>de</strong> cristalização <strong>da</strong> qual ele jamais conseguiu<br />

se recuperar.<br />

Especulando sobre a relação entre Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mente e matéria,<br />

ele <strong>de</strong>duziu que a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> é que <strong>da</strong>va origem à mente e à<br />

matéria. Tal inversão copernicana <strong>da</strong> relação entre a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o<br />

mundo objetivo po<strong>de</strong>ria parecer misteriosa, caso não fosse bem explica<strong>da</strong>.<br />

Mas ele não tinha intenção <strong>de</strong> conservar o mistério. Queria<br />

apenas dizer que na fronteira do tempo, antes do processo <strong>de</strong> discriminação<br />

<strong>de</strong> um objeto, <strong>de</strong>ve existir uma consciência <strong>de</strong> natureza<br />

irracional que ele <strong>de</strong>nominava consciência <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Só se<br />

po<strong>de</strong> estar consciente <strong>de</strong> ter visto uma árvore <strong>de</strong>pois que a árvore<br />

foi vista. E entre o instante <strong>da</strong> visão e o <strong>da</strong> consciência <strong>de</strong>ve existir<br />

um lapso <strong>de</strong> tempo. Po<strong>de</strong>mos ter a impressão <strong>de</strong> que esse lapso não<br />

merece a mínima importância. Mas não há absolutamente na<strong>da</strong><br />

que justifique a idéia <strong>de</strong> que esse intervalo é irrelevante.<br />

O passado existe apenas em nossa memória, o futuro, apenas<br />

em nossos planos. O presente é a única reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que temos.<br />

A árvore que captamos racionalmente, por causa <strong>da</strong>quele pequeno<br />

lapso <strong>de</strong> tempo, está sempre no passado, e, portanto, é sempre<br />

irreal. Qualquer objeto concebido em termos intelectuais está sem-<br />

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