19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

está sendo transmitido?”, “Qual é o objetivo?”, “Como as aulas e os<br />

trabalhos contribuem para atingirmos este objetivo?”, tornam-se<br />

ameaçadoras. A eliminação <strong>da</strong>s notas <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> imediato um imenso<br />

e alarmante vazio.<br />

Afinal <strong>de</strong> contas, o que Fedro estava preten<strong>de</strong>ndo fazer? Esta<br />

pergunta se impunha ca<strong>da</strong> vez mais, à medi<strong>da</strong> que ele prosseguia.<br />

A resposta que no início lhe parecia correta agora tinha ca<strong>da</strong> vez<br />

menos sentido. Ele queria que os alunos <strong>de</strong>senvolvessem sua criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

tomassem suas próprias <strong>de</strong>cisões quanto ao que era um<br />

boa re<strong>da</strong>ção, em vez <strong>de</strong> ficarem sempre perguntando isso a ele. O<br />

objetivo real <strong>da</strong> suspensão <strong>de</strong> notas era obrigar os alunos a fazerem<br />

uma análise introspectiva, a procurarem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si a resposta<br />

certa.<br />

Só que agora isso não fazia mais sentido. Se eles já sabiam o<br />

que era bom e o que era mau, não havia mais nem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

freqüentarem as aulas. O fato <strong>de</strong> serem alunos significava que ain<strong>da</strong><br />

não sabiam distinguir o bom do mau. Seu papel, como professor,<br />

era ensinar-lhes qual era a diferença. Aquelas idéias to<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> individual e <strong>de</strong> expressão na sala <strong>de</strong> aula na ver<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

opunham-se radicalmente à própria idéia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Para muitos estu<strong>da</strong>ntes, a retenção <strong>da</strong>s notas criou uma situação<br />

kafkiana: eles sentiam que seriam punidos por <strong>de</strong>ixarem<br />

<strong>de</strong> fazer alguma coisa que ninguém lhes dizia o que era. Olhavam<br />

para si mesmos, não viam na<strong>da</strong>, e também na<strong>da</strong> viam ao olhar<br />

para Fedro. Então ficavam ali, in<strong>de</strong>fesos, sem saberem o que fazer.<br />

Houve até uma jovem que sofreu um colapso nervoso. Não se po<strong>de</strong><br />

eliminar as notas e <strong>de</strong>ixar que as pessoas fiquem mergulha<strong>da</strong>s no<br />

vazio, sem objetivos. E necessário fornecer à turma um propósito<br />

que preencha esse vazio. E isso ele não estava fa<strong>zen</strong>do.<br />

Ele não conseguia. Não conseguia encontrar nenhum modo<br />

possível <strong>de</strong> lhes fornecer um objetivo sem cair na armadilha do magistério<br />

autoritário e didático. Mas como colocar no quadro-negro o<br />

misterioso objetivo íntimo <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> indivíduo criativo?<br />

No trimestre seguinte, ele <strong>de</strong>sistiu <strong>da</strong>quilo tudo e voltou à<br />

avaliação comum, <strong>de</strong>sanimado, confuso, achando que estava certo,<br />

mas que, por alguma razão estranha, havia fracassado. Quando<br />

numa turma <strong>de</strong>spontavam a espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>, a individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

trabalhos bons e originais, tudo ocorria apesar do ensino, não por<br />

causa <strong>de</strong>le. Parece que isso fazia sentido. Ele estava a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistir<br />

<strong>de</strong> tudo. Ensinar aquela mesmice tradicional para estu<strong>da</strong>ntes<br />

chateados não era o que mais queria na vi<strong>da</strong>.<br />

202

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!