19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

tão: “Tens que atravessar o vale <strong>da</strong>s sombras.” As palavras o alentam.<br />

“Tens que atravessá-lo sozinho.”<br />

Ele cruza o vale <strong>da</strong>s sombras, sai do mythos, emergindo como<br />

num sonho e percebendo que to<strong>da</strong> a sua consciência, o mythos, foi<br />

uma ilusão, um sonho <strong>de</strong>le mesmo, não <strong>de</strong> outro qualquer, um<br />

sonho que agora ele precisa alimentar com seus próprios esforços.<br />

Depois, até “ele” <strong>de</strong>saparece, e apenas o sonho <strong>de</strong> si mesmo permanece,<br />

contendo-o.<br />

E a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a aretê pela qual ele tanto lutara, tanto se<br />

sacrificara, que nunca havia traído, mas que também nunca havia<br />

compreendido, revela-se totalmente a ele, e dá <strong>de</strong>scanso à sua<br />

alma.<br />

Os carros agora são bem raros, e a estra<strong>da</strong> está tão preta<br />

que o farol não consegue iluminar o caminho através <strong>da</strong> chuva.<br />

Situaçãozinha mais perigosa. Po<strong>de</strong> aparecer qualquer coisa ─ uma<br />

vala, um <strong>de</strong>rrame <strong>de</strong> óleo, um animal morto... Só que se a gente<br />

an<strong>da</strong>r mais <strong>de</strong>vagar, os sujeitos <strong>de</strong> trás matam a gente. Eu nem<br />

sei por que ain<strong>da</strong> estamos prosseguindo. Devíamos ter parado há<br />

muito tempo. Eu não sei mais o que estou fa<strong>zen</strong>do. Estava procurando<br />

alguma placa <strong>de</strong> motel, creio eu, mas sem prestar a mínima<br />

atenção. Se ficarmos mais tempo na estra<strong>da</strong>, os motéis vão acabar<br />

fechando.<br />

Entramos no primeiro <strong>de</strong>svio, esperando chegar a algum lugar,<br />

e logo topamos com um asfalto esburacado, cheio <strong>de</strong> valas<br />

e cascalho solto. Diminuo a marcha. As lâmpa<strong>da</strong>s <strong>de</strong> sódio dos<br />

postes, acima <strong>de</strong> nós, projetam arcos oscilantes <strong>de</strong> luz alaranja<strong>da</strong><br />

através <strong>da</strong> cortina <strong>de</strong> chuva. Passamos <strong>da</strong> luz para a sombra, <strong>da</strong><br />

sombra para a luz, <strong>da</strong> luz para a sombra, sem encontrar abrigo em<br />

p<strong>arte</strong> alguma. A esquer<strong>da</strong>, vemos um sinal <strong>de</strong> PARE, mas não há<br />

indicação do caminho a tomar.<br />

Po<strong>de</strong> ser que a gente se perca por estas ruas sem achar droga<br />

nenhuma, nem a própria via expressa.<br />

─ On<strong>de</strong> a gente está? ─ grita Chris.<br />

─ Não sei. ─ Minha cabeça está cansa<strong>da</strong> e confusa. Não consigo<br />

encontrar a resposta certa... Nem sei o que fazer agora.<br />

Mas <strong>de</strong> repente enxergo bem, mais adiante, uma luz branca<br />

e o letreiro luminoso <strong>de</strong> um posto <strong>de</strong> gasolina.<br />

Está aberto. Nós estacionamos e entramos. O empregado,<br />

avaliando a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Chris, nos olha <strong>de</strong> um modo estranho. Ele<br />

não conhece nenhum motel por perto. Consulto a lista telefônica,<br />

392

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!