19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

o tanque <strong>de</strong> gasolina, obterei uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> disposição <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos<br />

sensoriais. Se eu virar um pouquinho a cabeça para a direita,<br />

a disposição dos <strong>da</strong>dos vai ficar ligeiramente diferente. As duas visões<br />

diferem. Os ângulos <strong>da</strong>s superfícies planas e curvas do metal<br />

também diferem. A luz solar inci<strong>de</strong> sobre elas <strong>de</strong> maneira diferente.<br />

Se não há base lógica para o conceito <strong>de</strong> substância, então não há<br />

base lógica para concluir que foi a mesma motocicleta que produziu<br />

essas duas disposições <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos.<br />

Chegamos, pois, a um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro impasse intelectual. Nossa<br />

razão, que <strong>de</strong>via tornar as coisas mais inteligíveis, parece estar<br />

tornando-as menos inteligíveis; e quando a razão <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> cumprir<br />

com o seu <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>ssa maneira, é necessário mu<strong>da</strong>r alguma coisa<br />

na estrutura <strong>da</strong> nossa própria razão.<br />

Kant vem em nosso auxílio, di<strong>zen</strong>do que o fato <strong>de</strong> não haver<br />

maneira <strong>de</strong> se perceber diretamente uma “motocicleta”, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

<strong>da</strong>s cores e formas que uma motocicleta produz, não<br />

prova que não existe aqui motocicleta. Existe na nossa imaginação<br />

uma motocicleta apriorística, cronológica e espacialmente contínua,<br />

capaz <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> aparência quando a observamos <strong>de</strong> ângulos<br />

diferentes, e que não é refuta<strong>da</strong> pelos <strong>da</strong>dos sensoriais que<br />

recebemos.<br />

A motocicleta <strong>de</strong> Hume, aquela que não faz sentido, surgirá<br />

se nosso paciente hipotético, aquele <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> sentidos, receber,<br />

por um segundo que seja, os <strong>da</strong>dos sensoriais <strong>de</strong> uma motocicleta,<br />

sendo, <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>stituído novamente dos sentidos. Creio que<br />

nesse caso ele teria na mente a motocicleta <strong>de</strong> Hume, o que não<br />

lhe forneceria qualquer prova <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> conceitos tais como<br />

o <strong>de</strong> causação.<br />

No entanto, como diz Kant, não somos assim. Temos em nossas<br />

cabeças uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira motocicleta apriorística, <strong>de</strong> cuja existência<br />

não po<strong>de</strong>mos duvi<strong>da</strong>r e cuja reali<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser prova<strong>da</strong> a<br />

qualquer momento.<br />

Essa motocicleta apriorística vem sendo construí<strong>da</strong> nas nossas<br />

mentes há muitos anos, a partir <strong>de</strong> incríveis quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>dos sensoriais, e está em constante transformação à medi<strong>da</strong> que<br />

entram novos <strong>da</strong>dos. Algumas mu<strong>da</strong>nças nessa minha motocicleta<br />

apriorística são muito rápi<strong>da</strong>s e transitórias, como sua posição em<br />

relação à estra<strong>da</strong>, que estou controlando e corrigindo todo o tempo<br />

enquanto entramos nas curvas. Se a informação não contiver valor<br />

significativo, eu a <strong>de</strong>scarto, porque há outros <strong>da</strong>dos que <strong>de</strong>vem ser<br />

acompanhados. Outras mu<strong>da</strong>nças neste a priori são mais vagaro-<br />

135

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!