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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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fos crêem tanto nisso que entre eles a idéia já é quase um lugarcomum.<br />

Mas para Fedro foi uma revelação. Ele <strong>de</strong>scobriu que a<br />

ciência, que ele antes consi<strong>de</strong>rava ser a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> do mundo do<br />

saber, é apenas um ramo <strong>da</strong> filosofia, que é muito maior e muito<br />

mais geral. As perguntas que ele havia feito sobre as hipóteses infinitas<br />

não interessavam à ciência porque elas não eram científicas.<br />

A ciência não po<strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r o método científico sem cair num círculo<br />

vicioso que <strong>de</strong>struiria a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suas respostas. As perguntas<br />

feitas por Fedro situavam-se num nível mais alto que o <strong>da</strong> ciência.<br />

E assim, Fedro encontrou na filosofia uma continuação natural <strong>da</strong><br />

pergunta que o havia aproximado <strong>da</strong> ciência: “O que significa isso?<br />

Qual é o objetivo disso tudo?”<br />

Paramos no acostamento para tirar umas fotografias, só para<br />

documentar a viagem, provando que estivemos aqui, e <strong>de</strong>pois seguimos<br />

uma pequena trilha que nos conduz à bor<strong>da</strong> <strong>de</strong> um penhasco.<br />

De lá, mal po<strong>de</strong>mos ver uma motocicleta que passa na estra<strong>da</strong><br />

quase que diretamente abaixo <strong>de</strong> nós. Agasalhamo-nos mais para<br />

combater melhor o frio, e continuamos a subir.<br />

Já não há mais árvores <strong>de</strong> folhas gran<strong>de</strong>s. Só restam pinheiros<br />

miúdos, muitos <strong>de</strong>les <strong>de</strong> formas retorci<strong>da</strong>s e atarraca<strong>da</strong>s.<br />

Depois, até esses pinheiros atarracados <strong>de</strong>saparecem inteiramente,<br />

e surgem as pra<strong>da</strong>rias alpinas. Não há mais nenhuma<br />

árvore, apenas um compacto relvado, coberto <strong>de</strong> pequenas e intensas<br />

manchas róseas, azuis e brancas ─ flores silvestres, espalha<strong>da</strong>s<br />

por to<strong>da</strong> p<strong>arte</strong>! Somente elas, a relva, os musgos e os liquens<br />

po<strong>de</strong>m sobreviver aqui. Chegamos às terras altas, acima do limite<br />

<strong>da</strong>s florestas.<br />

Olho para trás, para ver o <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro pela última vez. E como<br />

olhar para o fundo do oceano. As pessoas passam a vi<strong>da</strong> inteira lá<br />

embaixo, sem fazer a mínima idéia do que aqui existe.<br />

A estra<strong>da</strong> faz uma curva, afastando-nos do <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro, e<br />

conduzindo-nos aos campos nevados.<br />

O motor solta violentas <strong>de</strong>scargas por falta <strong>de</strong> oxigênio e fica<br />

ameaçando parar, mas não pára. Logo nos encontramos em meio a<br />

montes <strong>de</strong> neve velha, com a aparência que a neve tem no início <strong>da</strong><br />

primavera, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um <strong>de</strong>gelo. Por to<strong>da</strong> p<strong>arte</strong> vêem-se pequenos<br />

córregos que <strong>de</strong>scem até poças <strong>de</strong> lama cheias <strong>de</strong> musgo, e <strong>de</strong>pois,<br />

mais abaixo, até a relva <strong>de</strong> uma semana, alcançando as florezinhas<br />

silvestres, aquelas cor-<strong>de</strong>-rosa, azuis, amarelas e brancas, que parecem<br />

espocar <strong>da</strong>s trevas, cintilando ao sol. Todos os lugares estão<br />

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