19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

agradável.<br />

─ De qualquer forma ─ diz John ─ esta figura nos disse que<br />

a gente ia ter uma enorme <strong>de</strong>cepção quando chegasse aqui. Até<br />

agora não senti nem o cheiro <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>cepção!<br />

Começo a rir. Minha intenção era não fazê-lo esperar muito<br />

<strong>de</strong>ste lugar. DeWeese sorri também. Mas então, John me diz:<br />

─ Cara, você <strong>de</strong>via estar louco, doido mesmo <strong>de</strong> pedra para<br />

sair <strong>de</strong> um lugar <strong>de</strong>stes. Não importa como era a facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, podia<br />

ser o que fosse!<br />

Percebo que DeWeese o observa com um olhar surpreso. Depois,<br />

zangado. Em resposta ao olhar que DeWeese me lança, faço<br />

um gesto <strong>de</strong> quem não se importa. Chegamos a uma espécie <strong>de</strong><br />

impasse e não sei como contorná-lo.<br />

─ Este lugar é lindo ─ digo, mansamente. DeWeese retruca,<br />

em tom <strong>de</strong>fensivo:<br />

─ Se você passasse uns tempos aqui, ia mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> idéia. O<br />

professor assente, concor<strong>da</strong>ndo.<br />

O impasse gera um silêncio impossível <strong>de</strong> ser remediado.<br />

John não disse na<strong>da</strong> <strong>de</strong> in<strong>de</strong>licado. Ele é uma <strong>da</strong>s pessoas mais<br />

<strong>de</strong>lica<strong>da</strong>s que conheço. O que ele sabe e eu sei, mas DeWeese não<br />

sabe, é que a pessoa a que eles se referem não é mais a mesma. É<br />

apenas uma outra pessoa <strong>de</strong> classe média e <strong>de</strong> meia-i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Preocupado<br />

principalmente com Chris e com nenhuma outra coisa em<br />

especial.<br />

Mas o que DeWeese e eu sabemos e os Sutherlands não sabem,<br />

é que aqui morou uma pessoa que ardia em criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

cheia <strong>de</strong> idéias jamais concebi<strong>da</strong>s anteriormente. Então aconteceram<br />

coisas inexplicáveis e imprevistas, cuja razão nem eu nem<br />

DeWeese conhecemos. A causa <strong>de</strong>ste impasse, <strong>de</strong>ste mal-estar, é<br />

que DeWeese acha que é essa pessoa que está aqui agora. E eu não<br />

tenho como <strong>de</strong>smentir.<br />

Por um breve momento, lá do alto <strong>da</strong> montanha, o sol faz<br />

passar os seus raios através <strong>da</strong>s ramagens, e um halo <strong>de</strong> luz difusa<br />

<strong>de</strong>sce, crescendo até envolver tudo num clarão súbito, inclusive a<br />

mim.<br />

─ Ele viu <strong>de</strong>mais ─ comento eu, ain<strong>da</strong> pensando no impasse,<br />

mas DeWeese me olha intrigado, e John nem está me escutando;<br />

percebo tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais que a conversa já havia terminado. A distância<br />

ouve-se um pássaro solitário a piar, plangente.<br />

Agora, <strong>de</strong> repente, o sol se oculta atrás <strong>da</strong> montanha; o <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro<br />

imerge na penumbra.<br />

160

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!