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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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eixo <strong>de</strong> comando <strong>de</strong> válvulas e a corrente <strong>de</strong> transmissão, tuchos<br />

e distribuidor, existe apenas <strong>de</strong>vido a um corte peculiar <strong>de</strong>ssa faca<br />

analítica. Se a gente fosse a uma loja <strong>de</strong> peças para <strong>motocicletas</strong> e<br />

pedisse um sistema <strong>de</strong> realimentação, eles não iam enten<strong>de</strong>r patavina<br />

do que a geste está di<strong>zen</strong>do. Eles não divi<strong>de</strong>m a moto como<br />

eu. Não há dois fabricantes que a divi<strong>da</strong>m exatamente <strong>da</strong> mesma<br />

maneira, e todo mecânico conhece o problema <strong>de</strong> não conseguir<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> peça porque o fabricante a consi<strong>de</strong>ra p<strong>arte</strong> <strong>de</strong> outro<br />

sistema.<br />

É importante perceber essa faca como ela é, e não se iludir,<br />

achando as <strong>motocicletas</strong>, ou quaisquer outros objetos são do modo<br />

que são porque a faca fez aquele corte <strong>de</strong>terminado. O importante<br />

é concentrar-se na faca em si. Mais tar<strong>de</strong> mostrarei como a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> manejar essa faca criativamente e com eficácia po<strong>de</strong> trazer<br />

soluções para a ruptura entre classicismo e romantismo.<br />

Fedro era mestre na <strong>arte</strong> <strong>de</strong> manejá-la, dominando-a com<br />

perfeição. Com um simples golpe do pensamento analítico, dividiu<br />

o mundo em p<strong>arte</strong>s a seu bel-prazer, dividiu as p<strong>arte</strong>s e as p<strong>arte</strong>s<br />

<strong>da</strong>s p<strong>arte</strong>s, ca<strong>da</strong> vez mais, até reduzi-lo ao que ele queria que fosse.<br />

Até mesmo o emprego especial dos termos “clássico” e “romântico”<br />

é um exemplo <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>streza no manejo <strong>de</strong>ssa faca.<br />

Contudo, se Fedro só tivesse habili<strong>da</strong><strong>de</strong> analítica, eu nem<br />

estaria falando nele, muito pelo contrário. Mas não <strong>de</strong>vo silenciar,<br />

porque é importante dizer que ele usou essa habili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

modo curioso e ao mesmo tempo significativo. Ninguém jamais se<br />

<strong>de</strong>u conta disso, acho que nem ele mesmo, e, a menos que eu me<br />

engane, ele utilizou essa faca não como um assassino, mas como<br />

um mau cirurgião. Talvez não haja diferença entre estes termos.<br />

Ele, porém, notou que estava acontecendo algo mórbido e doentio,<br />

e começou a fazer cortes profundos, ca<strong>da</strong> vez mais profundos, até<br />

chegar à raiz do mal. Ele estava em busca <strong>de</strong> alguma coisa, o que<br />

é importante. Estava em busca <strong>de</strong> algo, e usou a faca porque era o<br />

único instrumento que possuía. Mas ele se entusiasmou tanto, e<br />

foi tão longe, que acabou se transformando na única vítima.<br />

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