19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

te na cena, não fica só assistindo, e é natural que as tempesta<strong>de</strong>s<br />

contracenem conosco.<br />

Se fossem só nuvens <strong>de</strong> trovoa<strong>da</strong> e raja<strong>da</strong>s <strong>de</strong> vento intermitentes,<br />

po<strong>de</strong>ríamos tentar contorná-las, mas o que eu via era<br />

diferente. Aquela longa faixa escura, sem cirros, ali adiante, <strong>de</strong>ve<br />

ser uma frente fria. As frentes frias são violentas, principalmente<br />

quando vêm <strong>de</strong> sudoeste. Muitas vezes contêm tornados. A sua<br />

chega<strong>da</strong>, o melhor é procurar abrigo e <strong>de</strong>ixá-las amainarem. Não<br />

duram muito, e é bom viajar com o tempo fresco que as suce<strong>de</strong>.<br />

As frentes quentes são piores. Po<strong>de</strong>m durar dois dias seguidos.<br />

Lembro-me que, certa vez, há alguns anos, Chris e eu estávamos<br />

viajando para o Canadá e fomos apanhados, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uns<br />

du<strong>zen</strong>tos quilômetros, por uma frente quente, sobre a qual já nos<br />

tinham prevenido, mas que não conhecíamos. Foi uma experiência<br />

triste e estúpi<strong>da</strong>.<br />

Viajávamos numa pequena motocicleta <strong>de</strong> 6,5 H.P., sobrecarrega<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> todo tipo <strong>de</strong> bagagem, menos <strong>de</strong> bom senso. A máquina<br />

só <strong>da</strong>va 70km/h, no máximo, contra um vento frontal mo<strong>de</strong>rado.<br />

Não prestava para viagens. Chegamos a um gran<strong>de</strong> lago nos North<br />

Woods na primeira noite e acampamos em meio a temporais que<br />

vararam a madruga<strong>da</strong>. Esqueci-me <strong>de</strong> cavar uma vala em torno<br />

<strong>da</strong> ten<strong>da</strong>. Resultado: por volta <strong>de</strong> duas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong> começou a<br />

entrar um aguaceiro <strong>da</strong>nado, que ensopou os dois sacos <strong>de</strong> dormir.<br />

De manhã estávamos encharcados, <strong>de</strong>primidos e mortos <strong>de</strong> sono,<br />

mas eu achei que a gente podia continuar, porque certamente a<br />

chuva cessaria breve. Ledo engano. Lá pelas <strong>de</strong>z o céu estava tão<br />

escuro que todos os carros trafegavam <strong>de</strong> faróis acesos. E foi aí que<br />

<strong>de</strong>spencou a tempesta<strong>de</strong>.<br />

Estávamos usando as capas que nos haviam servido <strong>de</strong> ten<strong>da</strong><br />

na noite anterior. Elas agora inflavam-se como velas, diminuindo<br />

nossa veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> máxima para 50km/h. A estra<strong>da</strong> estava coberta<br />

por uma cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> cinco centímetros <strong>de</strong> água. Caíam raios por<br />

todos os lados. Lembro-me <strong>de</strong> um rosto <strong>de</strong> mulher que nos olhou<br />

assustado <strong>da</strong> janela <strong>de</strong> um automóvel, imaginando que diabo estávamos<br />

fa<strong>zen</strong>do numa moto com aquele tempo. Acho que eu não ia<br />

conseguir explicar a ela.<br />

A moto começou a an<strong>da</strong>r a 35km/h, <strong>de</strong>pois a 30. Aí pôs-se a<br />

engasgar, a estourar e a cuspir e a espocar, até que, movendo-nos<br />

a apenas uns oito ou sete quilômetros por hora, conseguimos encontrar<br />

um velho posto <strong>de</strong> gasolina em ruínas, perto <strong>de</strong> uma área<br />

<strong>de</strong>smata<strong>da</strong>, e paramos ali.<br />

27

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!