19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

perdido em reflexões, nos dias <strong>de</strong> aula prática, enquanto os alunos<br />

escreviam. Ele se sentava ao lado do aquecedor com um toco <strong>de</strong><br />

giz na mão e ficava parado, olhando as montanhas, interrompido<br />

apenas por alunos que perguntavam: “A gente tem que...?” Aí ele se<br />

voltava, respondia à pergunta e sentia uma harmonia que jamais<br />

sentira antes. Naquele lugar, ele era aceito ─ tal como era. Um<br />

lugar inteiramente receptivo ─ todos o ouviam. Ele se entregava<br />

àquilo <strong>de</strong> corpo e alma. Não era uma sala só, eram milhares <strong>de</strong><br />

salas, transformando-se diariamente, junto com as tempesta<strong>de</strong>s,<br />

nevascas, formatos <strong>da</strong>s nuvens sobre a serra, junto com ca<strong>da</strong> aula,<br />

e até com ca<strong>da</strong> aluno. Não havia duas horas iguais, e ele nunca<br />

sabia o que podia acontecer na hora seguinte...<br />

Já perdi a noção do tempo, e agora ouço no saguão um ranger<br />

<strong>de</strong> passos, que vai ficando ca<strong>da</strong> vez mais alto, até parar atrás<br />

<strong>da</strong> porta <strong>da</strong> sala. A maçaneta gira. A porta se abre, e surge uma<br />

mulher.<br />

A expressão do rosto <strong>de</strong>la é agressiva, como se ela preten<strong>de</strong>sse<br />

surpreen<strong>de</strong>r alguém em flagrante. Deve estar perto dos trinta e<br />

não é muito bonita.<br />

─ Eu pensei que tinha visto alguém entrar ─ diz ela. ─ Eu<br />

pensei...<br />

Parece perplexa.<br />

Entrando na sala, aproxima-se <strong>de</strong> mim. Depois <strong>de</strong> me olhar<br />

mais <strong>de</strong> perto, per<strong>de</strong> a expressão zanga<strong>da</strong> e fica espanta<strong>da</strong>, atônita.<br />

─ Meu Deus! É o senhor mesmo!<br />

Não consigo reconhecê-la. Não me recordo <strong>de</strong> na<strong>da</strong>. Ela me<br />

chama pelo nome, e eu confirmo com a cabeça, sou eu mesmo.<br />

─ O senhor voltou.<br />

Abano a cabeça.<br />

─ Só por uns minutos.<br />

Ela continua me olhando, até que começo a me sentir constrangido.<br />

Dando-se conta disso, finalmente pergunta:<br />

─ Posso sentar aqui um pouco ? ─ O jeito tímido com que ela<br />

faz esse pedido indica que provavelmente foi aluna <strong>de</strong>le.<br />

Ela senta-se numa <strong>da</strong>s c<strong>arte</strong>iras <strong>da</strong> primeira fila. Sua mão,<br />

sem aliança, está tremendo. Eu realmente sou um fantasma. Agora<br />

é ela quem está embaraça<strong>da</strong>.<br />

─ Quanto tempo vai ficar aqui? Não, eu já perguntei isso...<br />

─ Vou ficar uns dias com Bob DeWeese e <strong>de</strong>pois sigo para<br />

o Oeste. Tive <strong>de</strong> passar algum tempo na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e resolvi <strong>da</strong>r uma<br />

179

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!