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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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cessores: eles atrapalhavam o que ele estava querendo dizer.<br />

Aristóteles atrapalhava Fedro, colocando a retórica numa<br />

categoria escan<strong>da</strong>losamente secundária, na hierarquia que havia<br />

construído. Para ele, a retórica era um ramo <strong>da</strong> Ciência Prática,<br />

uma espécie <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> somenos importância com outra categoria,<br />

a Ciência Teórica, pela qual Aristóteles nutria uma preferência<br />

especial. Como ramo <strong>da</strong> Ciência Prática, a retórica estava isenta <strong>de</strong><br />

qualquer preocupação com a Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, o Bem, ou o Belo, que não<br />

utilizava a não ser como pretextos <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate. Assim, no sistema<br />

aristotélico, a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> não tem na<strong>da</strong> a ver com a retórica. Tal<br />

<strong>de</strong>sprezo pela retórica, junto com a péssima quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> retórica<br />

do próprio Aristóteles, irritava tanto Fedro que ele não conseguia<br />

ler na<strong>da</strong> escrito por Aristóteles sem procurar maneiras <strong>de</strong> menosprezá-lo<br />

e criticá-lo.<br />

Quanto a isso, não há problema. Aristóteles sempre foi evi<strong>de</strong>ntemente<br />

criticável e criticado ao longo <strong>da</strong> história; refutar as<br />

contradições óbvias <strong>de</strong> Aristóteles era como pescar peixes num<br />

barril ─ não <strong>da</strong>va lá muito prazer. Se não fosse tão parcial, Fedro<br />

talvez pu<strong>de</strong>sse ter aprendido algumas preciosas técnicas aristotélicas<br />

para penetrar em novas áreas <strong>de</strong> conhecimento, que era o que<br />

a banca pretendia. Mas se ele não fosse tão parcial ao procurar um<br />

lugar para lançar sua tese sobre a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, nem estaria ali, e assim<br />

não havia mesmo a menor possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aquilo <strong>da</strong>r certo.<br />

Enquanto o professor <strong>de</strong> filosofia <strong>da</strong>va aula, Fedro ouvia tanto<br />

a forma clássica quanto a superfície romântica do que ele dizia.<br />

A p<strong>arte</strong> em que o professor se sentia menos à vonta<strong>de</strong> era a “dialética”.<br />

Embora Fedro não conseguisse <strong>de</strong>scobrir por que em termos<br />

<strong>de</strong> forma clássica, a sua sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> romântica ca<strong>da</strong> vez mais<br />

intensa lhe dizia que ele estava farejando algo ─ uma presa.<br />

Dialética, hem?!<br />

O livro <strong>de</strong> Aristóteles começava falando nela, <strong>de</strong> um jeito bastante<br />

confuso. A retórica era um correspon<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> dialética, dizia<br />

ele, como se fosse coisa muito importante, embora nunca explicasse<br />

o porquê <strong>de</strong>ssa importância to<strong>da</strong>. Depois, seguiam-se várias<br />

<strong>de</strong>clarações avulsas, <strong>da</strong>ndo a impressão <strong>de</strong> que muita coisa fora<br />

omiti<strong>da</strong>, ou que tinha havido algum erro na composição do texto,<br />

ou que o tipógrafo esquecera <strong>de</strong> alguma coisa, porque Fedro leu<br />

aquilo umas du<strong>zen</strong>tas vezes sem encontrar o menor sentido. A única<br />

coisa óbvia era que Aristóteles se preocupava muito com a relação<br />

entre retórica e dialética. Fedro sentiu naquele texto a mesma<br />

artificiali<strong>da</strong><strong>de</strong> que havia notado no professor <strong>de</strong> filosofia.<br />

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