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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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natureza funcional. Junto com elas, haverá uma discriminação subliminar<br />

qualitativa, idêntica à discriminação qualitativa que levou<br />

Poincaré a <strong>de</strong>duzir as equações fuchsianas.<br />

Não importa qual seja a solução encontra<strong>da</strong>, contanto que<br />

ela contenha Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Conceber o parafuso como uma combinação<br />

<strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z e a<strong>de</strong>são, e pensar na rosca com que ele se pren<strong>de</strong>,<br />

po<strong>de</strong> trazer naturalmente soluções tais como a retira<strong>da</strong> por golpes<br />

<strong>de</strong> ferramenta, ou o uso <strong>de</strong> solventes. Esta é uma <strong>da</strong>s ferrovias <strong>da</strong><br />

Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Uma outra seria ir à biblioteca e procurar um catálogo<br />

<strong>de</strong> ferramentas mecânicas, em que se pu<strong>de</strong>sse encontrar um extrator<br />

<strong>de</strong> parafusos para resolver o problema. Ou então, chamar<br />

um amigo que enten<strong>da</strong> um pouco <strong>de</strong> mecânica. Ou então simplesmente<br />

<strong>de</strong>struir o parafuso com uma fura<strong>de</strong>ira ou um maçarico. Ou<br />

então, graças à profun<strong>da</strong> reflexão em torno do parafuso, <strong>de</strong>scobrir<br />

um jeito novo <strong>de</strong> retirá-lo que jamais foi concebido antes, muito<br />

melhor do que os outros métodos, do qual você po<strong>de</strong> tirar patente,<br />

e que vai fazer <strong>de</strong> você um milionário <strong>da</strong>qui a cinco anos. Não se<br />

po<strong>de</strong> prever o que vem nos trilhos <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. To<strong>da</strong>s as soluções<br />

são simples ─ <strong>de</strong>pois que se chega a elas. Mas elas só são simples<br />

quando você já sabe quais são.<br />

A rodovia 13 segue outro afluente do nosso rio, mas agora<br />

rio acima, passando por velhas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s ma<strong>de</strong>ireiras e uma paisagem<br />

modorrenta. As vezes, ao passarmos <strong>de</strong> uma rodovia fe<strong>de</strong>ral<br />

para uma estadual, parece que voltamos no tempo. Lin<strong>da</strong>s montanhas,<br />

lindo rio, estra<strong>da</strong> asfalta<strong>da</strong>, gasta, mas agradável... Prédios<br />

antigos, velhinhos nas varan<strong>da</strong>s... É engraçado como os prédios,<br />

usinas e fábricas antigos e obsoletos, a tecnologia <strong>de</strong> cinqüenta<br />

e cem anos atrás, sempre nos parecem melhores que os <strong>de</strong> hoje.<br />

Nas rachaduras do concreto crescem plantas <strong>da</strong>ninhas, capim e<br />

flores silvestres. Linhas perfeitas, direitas e eretas adquirem uma<br />

curvatura aleatória. As massas uniformes <strong>de</strong> cor <strong>da</strong> pintura fresca<br />

adquirem uma suavi<strong>da</strong><strong>de</strong> matiza<strong>da</strong> e gasta. A natureza tem uma<br />

geometria não-euclidiana própria, que parece suavizar a objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>libera<strong>da</strong> <strong>de</strong>stes edifícios com uma espécie <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

fortuita que os arquitetos <strong>de</strong>viam estu<strong>da</strong>r.<br />

Logo <strong>de</strong>ixamos para trás o rio e os velhos prédios sonolentos<br />

e subimos para uma chapa<strong>da</strong> seca e coberta <strong>de</strong> pasto. A estra<strong>da</strong>,<br />

cheia <strong>de</strong> saliências e buracos, é coleante <strong>de</strong>mais, <strong>de</strong> modo que sou<br />

obrigado a diminuir a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> para oitenta e cinco por hora. Fico<br />

prestando atenção às crateras que aparecem <strong>de</strong> vez em quando na<br />

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