19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Capítulo 18<br />

Existe um ramo <strong>da</strong> filosofia que trata especialmente <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição<br />

<strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, conhecido como estética. E a pergunta feita<br />

pela estética: “O que é o belo?”, remonta à antigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Entretanto,<br />

quando Fedro estu<strong>da</strong>va filosofia, esse ramo repugnava-lhe bastante.<br />

Ele quase foi reprovado no único curso <strong>de</strong> estética, e escreveu<br />

vários trabalhos criticando violentamente o professor e os textos.<br />

Ele <strong>de</strong>testava, abominava tudo aquilo.<br />

Ele não reagia assim por causa <strong>de</strong> algum esteta em particular.<br />

Todos eles o enojavam. Não havia idéia que o violentasse tanto<br />

quanto a <strong>de</strong> que a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>via subordinar-se a qualquer ponto<br />

<strong>de</strong> vista. O processo intelectual estava escravizando a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

prostituindo-a. Creio que era isso que o irritava.<br />

Ele dizia num <strong>de</strong> seus trabalhos: “Esses estetas pensam que<br />

o seu objeto <strong>de</strong> estudo é um bombom recheado com hortelã-pimenta<br />

que eles têm o direito <strong>de</strong> abocanhar, uma iguaria que <strong>de</strong>ve ser<br />

<strong>de</strong>vora<strong>da</strong>, um prato que <strong>de</strong>ve ser trinchado, fisgado e saboreado<br />

naco por naco, com os elogios do costume; só que eu sinto vonta<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vomitar. Eles estão se banqueteando com os restos putrefatos<br />

<strong>de</strong> algo que mataram há muito tempo...”<br />

Agora, na primeira fase do processo <strong>de</strong> cristalização, ele via<br />

que, se a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> fosse in<strong>de</strong>finível por <strong>de</strong>finição, o campo inteiro<br />

<strong>da</strong> estética <strong>de</strong>sapareceria, ficaria completamente <strong>de</strong>sprivilegiado...<br />

Estaria perdido. Ao recusar-se a <strong>de</strong>finir Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele a havia excluído<br />

do processo analítico. Se não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, não<br />

há modo <strong>de</strong> subordiná-la a qualquer regra lógica. Os estetas não<br />

po<strong>de</strong>riam dizer mais na<strong>da</strong>. Aquilo a que se <strong>de</strong>dicavam, a <strong>de</strong>finição<br />

<strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, teria <strong>de</strong>saparecido.<br />

Ele vibrou ao pensar tudo isso. Era como <strong>de</strong>scobrir a cura<br />

do câncer. Não haveria mais tentativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a <strong>arte</strong>. Estavam<br />

elimina<strong>da</strong>s aquelas maravilhosas escolas <strong>de</strong> crítica, compostas por<br />

215

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!