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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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<strong>de</strong> como um mistério, não como um fracasso; não se encontraram<br />

quaisquer provas em contrário. Minha explicação foi elabora<strong>da</strong> a<br />

partir <strong>da</strong> discrepância entre sua falta <strong>de</strong> fé na razão científica em<br />

laboratório e o fanatismo expresso no discurso <strong>da</strong> Igreja <strong>da</strong> Razão.<br />

Foi pensando nessa discrepância, certo dia, que subitamente percebi<br />

que não havia discrepância alguma. Ele estava assim nessa<br />

<strong>de</strong>dicação fanática justamente porque não acreditava na razão.<br />

A gente nunca se <strong>de</strong>dica a um assunto em que se sinta perfeitamente<br />

seguro. Ninguém fica por aí a gritar feito doido que o sol<br />

vai nascer amanhã. Todos sabem que o sol vai nascer. As pessoas<br />

que se <strong>de</strong>dicam fanaticamente a credos políticos e religiosos, ou<br />

a outros tipos <strong>de</strong> dogmas ou objetivos, nunca estão inteiramente<br />

seguras <strong>de</strong>sses dogmas.<br />

Po<strong>de</strong>-se citar aqui a militância dos jesuítas, que ele fazia lembrar<br />

um pouco. As origens históricas do zelo <strong>da</strong> Companhia <strong>de</strong><br />

Jesus não se localizam na força <strong>da</strong> Igreja Católica, mas na fraqueza<br />

<strong>de</strong>la frente à Reforma Protestante. Era a falta <strong>de</strong> fé na razão que<br />

fazia <strong>de</strong> Fedro um professor tão fanático. Isso faz mais sentido. E<br />

torna os acontecimentos subseqüentes mais compreensíveis.<br />

Provavelmente era por isso que ele sentia uma afini<strong>da</strong><strong>de</strong> tão<br />

gran<strong>de</strong> por tantos maus alunos <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> sala, cujas expressões<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo refletiam exatamente o mesmo sentimento que Fedro<br />

tinha em relação ao processo racional e intelectual como um todo.<br />

A única diferença era que eles <strong>de</strong>sprezavam o processo porque não<br />

o compreendiam. Ele próprio estava cheio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo, mas por<br />

compreendê-lo. Como não o compreendiam, eles não tinham remédio<br />

senão repetir a matéria e lembrar-se disso com amargura<br />

durante o resto <strong>de</strong> suas vi<strong>da</strong>s. Fedro, por sua vez, sentia-se fanaticamente<br />

obrigado a fazer algo a respeito. Eis por que seu discurso<br />

sobre a Igreja <strong>da</strong> Razão fora tão cui<strong>da</strong>dosamente preparado. Estava<br />

di<strong>zen</strong>do a seus alunos que era preciso crer na razão, porque na<strong>da</strong><br />

existe além <strong>de</strong>la. Só que ele mesmo não possuía tal fé.<br />

É necessário lembrar que estávamos nos anos 50, não na<br />

déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70. Naquela época, os beatniks e os primeiros hippies<br />

estavam começando a protestar contra o “sistema” e a intelectuali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

“careta” que o apoiava, mas quase ninguém suspeitava a<br />

que profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> chegaria esse questionamento <strong>da</strong> estrutura. E lá<br />

estava Fedro, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo fanaticamente uma instituição, a Igreja<br />

<strong>da</strong> Razão, a qual ninguém, pelo menos certamente ninguém em Bozeman,<br />

Montana, tinha razão para pôr em dúvi<strong>da</strong>. Um Loyola anterior<br />

à Reforma. Um militante afirmando a todos que o sol nasceria<br />

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