19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

as provisões e subia novamente. Sentia uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> quase<br />

fisiológica <strong>de</strong> estar nestas campinas. O curso <strong>de</strong> suas abstrações<br />

tornara-se tão longo e envolvente que ele tinha que ficar em lugares<br />

como este, amplos e silenciosos, para se concentrar. Era como se<br />

horas <strong>de</strong> paciente elaboração corressem o perigo <strong>de</strong> ser abala<strong>da</strong>s<br />

pela menor distração gera<strong>da</strong> por outro pensamento ou outra obrigação.<br />

O pensamento <strong>de</strong>le já não era como o <strong>de</strong> outras pessoas,<br />

mesmo então, antes <strong>de</strong> ele ser <strong>de</strong>clarado louco. Ele estava num<br />

nível em que tudo mu<strong>da</strong>va e se transformava, no qual os valores<br />

e ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s institucionalizados haviam sido eliminados e já na<strong>da</strong><br />

restava além do seu próprio espírito para impulsioná-lo. Seu fracasso<br />

precoce o havia redimido <strong>de</strong> qualquer obrigação <strong>de</strong> pensar <strong>de</strong><br />

acordo com qualquer linha institucionaliza<strong>da</strong> e seus pensamentos<br />

já haviam alcançado um grau <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência que poucas pessoas<br />

atingem. Ele sentia que instituições como a escola, a igreja, o<br />

governo e organizações políticas <strong>de</strong> to<strong>da</strong> espécie tendiam a dirigir<br />

o pensamento para fins, em vez <strong>de</strong> para a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, para a perpetuação<br />

<strong>de</strong> suas próprias funções e para o controle dos indivíduos<br />

subordinados a essas funções. Ele passou a encarar o fracasso<br />

como um rompimento feliz, uma fuga casual <strong>de</strong> uma armadilha<br />

prepara<strong>da</strong> para ele, e <strong>da</strong>li em diante manteve-se prevenido contra<br />

as armadilhas <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s institucionais. A princípio não encarava<br />

nem entendia as coisas <strong>de</strong>ssa forma; só foi <strong>de</strong>scobrir isso mais<br />

tar<strong>de</strong>. Agora, eu já estou me <strong>de</strong>sviando do assunto. Isso aconteceu<br />

muito tempo <strong>de</strong>pois.<br />

No início, as ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s que Fedro buscava eram as laterais,<br />

não as ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s frontais <strong>da</strong> ciência, para as quais apontava a disciplina,<br />

mas o tipo <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que se vê lateralmente, com o rabo<br />

do olho. No laboratório, quando a experiência to<strong>da</strong> vai por água<br />

abaixo, tudo dá errado, ou fica in<strong>de</strong>finido, ou tão distorcido, em virtu<strong>de</strong><br />

dos resultados inesperados, que não se po<strong>de</strong> distinguir on<strong>de</strong><br />

principiam e on<strong>de</strong> terminam as coisas, a gente começa a olhar lateralmente.<br />

Esta palavra ele usou mais tar<strong>de</strong> para <strong>de</strong>screver a ampliação<br />

<strong>de</strong> conhecimentos que não se dirige para a frente, como<br />

uma flecha comum, mas que se expan<strong>de</strong> para os lados, como uma<br />

flecha que aumenta à medi<strong>da</strong> que corta os ares, ou como o arqueiro<br />

que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter acertado na mosca e ganho o prêmio, <strong>de</strong>scobre<br />

que sua cabeça está <strong>de</strong>ita<strong>da</strong> no travesseiro e o sol está surgindo<br />

na janela. O saber lateral é o conhecimento que vem <strong>de</strong> uma direção<br />

que nem é ti<strong>da</strong> como direção, até que o próprio conhecimento<br />

a indique. As ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s laterais apontam as falhas dos axiomas e<br />

123

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!