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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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ser visto <strong>da</strong> Terra. Fedro não tentou usar seu brilhantismo para<br />

iluminar o mundo. Ele buscou um <strong>de</strong>terminado alvo longínquo,<br />

mirou e acertou na mosca. E pronto. Parece que o que me resta é<br />

mostrar a todos esse alvo que ele atingiu.<br />

Era muito solitário, <strong>de</strong>vido à inteligência que possuía. Não<br />

me consta que tivesse amigos íntimos. Sempre viajava sozinho. Era<br />

solitário até mesmo quando em companhia <strong>de</strong> outras pessoas. Os<br />

outros às vezes percebiam isso, sentiam-se rejeitados, e passavam<br />

a não gostar <strong>de</strong>le. Mas Fedro não se importava.<br />

Quem mais sofria eram a mulher e a família. A mulher diz<br />

que quem tentava romper aquela barreira <strong>de</strong> reserva encontrava<br />

um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro vazio. Tenho a impressão <strong>de</strong> que eles precisavam <strong>de</strong><br />

alguma espécie <strong>de</strong> carinho que Fedro nunca lhes <strong>de</strong>u.<br />

Ninguém o conhecia a fundo. Certamente era o que ele queria,<br />

e assim foi. Talvez fosse tão solitário por causa <strong>da</strong> sua inteligência.<br />

Talvez fosse o contrário. De qualquer modo, inteligência e solidão<br />

sempre estiveram juntas. Uma fantástica inteligência solitária.<br />

Só que isto ain<strong>da</strong> não é suficiente, pois junto com a imagem<br />

do raio laser po<strong>de</strong>r-se-ia ter a idéia <strong>de</strong> que Fedro era completamente<br />

frio e insensível. Não é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Na pista do que <strong>de</strong>nominei o<br />

fantasma <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele era um caçador fanático.<br />

Agora me veio à memória uma cena nas montanhas: o sol<br />

passou meia hora escondido atrás <strong>da</strong> montanha, a penumbra antecipa<strong>da</strong><br />

emprestando às árvores e até mesmo às pedras tons escurecidos<br />

<strong>de</strong> azul, cinza e marrom. Fedro já estava sem comer havia<br />

três dias. Suas provisões tinham acabado, mas ele estava em<br />

profun<strong>da</strong> meditação, procurando enten<strong>de</strong>r coisas, sem vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

voltar. Ele sabia que estava relativamente próximo <strong>de</strong> uma estra<strong>da</strong>;<br />

não havia pressa.<br />

Enquanto <strong>de</strong>scia a trilha na obscuri<strong>da</strong><strong>de</strong>, percebeu um movimento,<br />

e <strong>de</strong>pois viu um animal semelhante a um cão aproximar-se<br />

pela trilha, um enorme cão pastor, ou um animal parecido com um<br />

cão esquimó; pôs-se então a imaginar o que estaria fa<strong>zen</strong>do aquele<br />

bicho naquela escuridão àquela hora <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>. Ele não gostava <strong>de</strong><br />

cachorro, mas aquele animal se comportava <strong>de</strong> uma forma que o<br />

atraía. O animal parecia estar observando-o e julgando-o. Fedro e o<br />

animal olharam-se diretamente nos olhos por muito tempo, e Fedro<br />

sentiu, por um momento, uma espécie <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. Depois, o<br />

cão <strong>de</strong>sapareceu.<br />

Só mais tar<strong>de</strong> ele <strong>de</strong>scobriu que era um lobo selvagem, e a<br />

lembrança <strong>de</strong>sse inci<strong>de</strong>nte permaneceu em sua memória por mui-<br />

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