19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

o maior prazer. Fedro podia fazer o que quisesse, contanto que se<br />

justificasse em termos racionais.<br />

Mas como diabo se justifica em termos racionais a recusa <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>finir algo? As <strong>de</strong>finições constituem a base <strong>da</strong> lógica. Não se po<strong>de</strong><br />

raciocinar sem <strong>de</strong>finições. Ele podia evitar a reação por enquanto,<br />

com estratégias supostamente dialéticas e insultos sobre competência<br />

e incompetência, mas, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, teria que<br />

apresentar algo mais concreto. A tentativa <strong>de</strong> fazê-lo levou a uma<br />

cristalização geral, que ultrapassou os limites <strong>da</strong> retórica e entrou<br />

nos domínios <strong>da</strong> filosofia.<br />

Chris volta-se e me olha, angustiado. Estou só esperando.<br />

Antes <strong>de</strong> partirmos, já havia indícios <strong>de</strong> que isso ia acontecer.<br />

Quando DeWeese disse a um vizinho que eu estava acostumado<br />

às escala<strong>da</strong>s, Chris mostrou gran<strong>de</strong> admiração. Estava estampado<br />

nos olhos <strong>de</strong>le. Logo ele vai se esgotar, e aí a gente po<strong>de</strong> armar o<br />

acampamento.<br />

Epa! Lá vai ele. Caiu. E não quer levantar-se. Foi um tombo<br />

bem <strong>de</strong>licado, e não parece ter sido aci<strong>de</strong>ntal. Agora ele está me<br />

olhando com um jeito rancoroso e dolorido, à espera <strong>de</strong> que eu o<br />

repreen<strong>da</strong>. Sem dizer na<strong>da</strong>, sento-me a seu lado e noto que ele já<br />

está a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sistir.<br />

─ Bom ─ digo eu ─ , a gente po<strong>de</strong> parar aqui, continuar ou<br />

voltar. O que você prefere?<br />

─ Tanto faz ─ respon<strong>de</strong> ele. ─ Eu não quero...<br />

─ Não quer o quê?<br />

─ Tanto faz! ─ grita ele, nervoso.<br />

─ Muito bem, então a gente vai continuar ─ resolvo eu, calmamente.<br />

Agora eu o peguei.<br />

─ Não estou gostando <strong>de</strong>sta viagem ─ confessa ele. ─ Está<br />

muito chata. Eu pensei que ia gostar.<br />

A raiva me pega <strong>de</strong>sprevenido.<br />

─ Po<strong>de</strong> ser ─ replico. ─ Só que você não <strong>de</strong>via ter feito essa<br />

má-criação.<br />

Ele se levanta, com um lampejo <strong>de</strong> temor nos olhos.<br />

Prosseguimos.<br />

O céu acima <strong>da</strong> outra encosta do <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro mostra-se nublado,<br />

e o vento que sopra os pinheiros à nossa volta ficou frio e<br />

ameaçador.<br />

Pelo menos, o frio torna mais fácil a caminha<strong>da</strong>...<br />

217

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!