19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

casa, mas um comprido corredor.<br />

Enquanto percorria o corredor, tive a impressão <strong>de</strong> que estava<br />

sendo vigiado. Fui abor<strong>da</strong>do umas três vezes por estranhos, que<br />

me perguntaram como eu me sentia. Pensando que se referiam à<br />

minha bebe<strong>de</strong>ira, respondi que nem tivera ressaca. Ouvindo isso,<br />

um <strong>de</strong>les pôs-se a rir, mas logo se conteve.<br />

Num dos quartos, no final do corredor, vi uma mesa ao redor<br />

<strong>da</strong> qual se movimentavam muitas pessoas, fa<strong>zen</strong>do qualquer coisa.<br />

Sentei-me por ali, na esperança <strong>de</strong> que não me notassem até que<br />

eu pu<strong>de</strong>sse compreen<strong>de</strong>r o que estava havendo. Logo se aproximou<br />

uma mulher vesti<strong>da</strong> <strong>de</strong> branco, perguntando-me se eu sabia o<br />

nome <strong>de</strong>la. Eu li o nome num crachá que estava preso na blusa que<br />

ela vestia. Ela não percebeu isso e, com uma expressão admira<strong>da</strong>,<br />

afastou-se rapi<strong>da</strong>mente.<br />

Ao retornar, trouxe consigo um homem, que olhou diretamente<br />

para mim, sentou-se a meu lado e me perguntou se eu sabia<br />

o nome <strong>de</strong>le. Eu respondi, tão surpreso quanto estavam por eu<br />

saber o nome <strong>de</strong>les.<br />

─ Ain<strong>da</strong> é muito cedo para ele reagir <strong>de</strong>sta maneira — disse<br />

o homem.<br />

─ Isso aqui está parecendo um hospital ─ disse eu. Eles confirmaram.<br />

─ Como foi que eu vim parar aqui? ─ perguntei, pensando<br />

naquela farra <strong>de</strong> sexta à noite. O homem não respon<strong>de</strong>u e a mulher<br />

baixou os olhos; não consegui muitas explicações.<br />

Levei mais <strong>de</strong> uma semana para <strong>de</strong>duzir, a partir dos fatos<br />

que me cercavam, que tudo que havia acontecido antes <strong>de</strong> eu acor<strong>da</strong>r<br />

era sonho, e tudo que acontecera <strong>de</strong>pois era reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Eu só<br />

podia fazer essa distinção a partir do acúmulo ca<strong>da</strong> vez maior <strong>de</strong><br />

novos acontecimentos que pareciam <strong>de</strong>smentir a bebe<strong>de</strong>ira. Surgiam<br />

coisas pequenas, como a porta tranca<strong>da</strong>, através <strong>da</strong> qual eu<br />

não me lembrava <strong>de</strong> ter olhado nunca. E um pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> papel do<br />

tribunal <strong>de</strong> sucessões, informando que uma certa pessoa fora interna<strong>da</strong><br />

por ter sido consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> louca. Seria eu?<br />

Finalmente, me explicaram que “você agora tem uma nova<br />

personali<strong>da</strong><strong>de</strong>”, o que para mim foi o mesmo que na<strong>da</strong>. Fiquei mais<br />

intrigado do que nunca, porque não tinha consciência alguma <strong>de</strong><br />

uma personali<strong>da</strong><strong>de</strong> antiga. Se eles tivessem dito: “Você é uma nova<br />

personali<strong>da</strong><strong>de</strong>”, a coisa teria ficado bem mais clara. Aí, tudo faria<br />

sentido. Eles haviam cometido o erro <strong>de</strong> achar que personali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

é algo que se possui, como as roupas que se usa. No entanto, se a<br />

90

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!