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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> como pressuposto, e DeWeese trabalha apenas com<br />

a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s coisas, tomando como pressuposto os pe<strong>da</strong>ços,<br />

as p<strong>arte</strong>s e as peças. O que ele realmente quer que eu xingue é<br />

a falta <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> artística, para a qual os engenheiros não<br />

ligam a mínima. Isso se encaixa no problema <strong>da</strong> divisão românticoclássico,<br />

assim como tudo que diz respeito à tecnologia.<br />

Nesse meio tempo, Chris, <strong>de</strong> posse do folheto, dobra as páginas<br />

<strong>de</strong> uma maneira que eu não havia percebido, para que as ilustrações<br />

fiquem ao lado do texto correspon<strong>de</strong>nte. Olho para aquilo<br />

duas vezes, <strong>de</strong>pois uma terceira, sentindo-me como aqueles personagens<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senho animado que acabaram <strong>de</strong> ultrapassar a beira<br />

<strong>de</strong> um precipício, mas ain<strong>da</strong> não caíram porque ain<strong>da</strong> não se <strong>de</strong>ram<br />

conta <strong>da</strong> entala<strong>da</strong> em que estão metidos. Balanço a cabeça, todos<br />

silenciam, aí percebo que estou em apuros e todos riem por um<br />

bom tempo, enquanto dou tapinhas na cabeça <strong>de</strong> Chris, à medi<strong>da</strong><br />

que <strong>de</strong>spenco precipício abaixo. Ao cessarem as risa<strong>da</strong>s, começo:<br />

─ Bem, <strong>de</strong> qualquer forma... E o riso recomeça.<br />

─ O que eu queria dizer ─ <strong>de</strong>claro, afinal ─ é que lá em casa<br />

eu tenho um manual <strong>de</strong> instruções que abre largos horizontes para<br />

o aprimoramento <strong>de</strong> re<strong>da</strong>ção técnica. Começa assim: “A montagem<br />

<strong>de</strong> uma bicicleta japonesa exige uma gran<strong>de</strong> paz <strong>de</strong> espírito.”<br />

Mais risa<strong>da</strong>s, mas Sylvia, Gennie e o escultor me olham interessados.<br />

─ Está aí, uma boa instrução ─ comenta o escultor. Gennie<br />

concor<strong>da</strong>, balançando a cabeça.<br />

─ Foi mais ou menos por isso que eu a guar<strong>de</strong>i ─ digo. ─ A<br />

princípio, por causa <strong>de</strong> umas lembranças que eu tinha <strong>de</strong> bicicletas<br />

que montei e, obviamente, por causa dos preconceitos contra a<br />

indústria japonesa. Mas há gran<strong>de</strong> sabedoria nessa frase.<br />

John me lança um olhar apreensivo. Eu olho para ele, igualmente<br />

apreensivo. Nós dois rimos.<br />

─ Vai começar a aula ─ brinca ele.<br />

─ A paz <strong>de</strong> espírito não é uma coisa superficial ─ explico. ─<br />

É tudo. É produzi<strong>da</strong> pela boa <strong>manutenção</strong> e <strong>de</strong>struí<strong>da</strong> pela <strong>manutenção</strong><br />

<strong>de</strong>scui<strong>da</strong><strong>da</strong>. O que chamamos <strong>de</strong> praticabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

máquina é apenas a objetivação <strong>de</strong>ssa paz <strong>de</strong> espírito na máquina.<br />

O teste final é sempre nossa própria sereni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Se, ao começarmos<br />

e prosseguirmos o trabalho não conservamos essa sereni<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

transmitiremos nossos problemas pessoais à própria máquina.<br />

Eles ficam me olhando, pensativos.<br />

─ Esta é uma idéia não convencional, mas po<strong>de</strong> ser justifi-<br />

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