19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Em vez <strong>de</strong> rir, DeWeese olhou para ele espantado, examinou<br />

<strong>de</strong>mora<strong>da</strong>mente a “escultura” e <strong>de</strong>pois perguntou:<br />

─ On<strong>de</strong> você apren<strong>de</strong>u tudo isso?<br />

Por um instante, Fedro achou que ele tinha topado a brinca<strong>de</strong>ira,<br />

mas ele estava falando sério.<br />

De outra feita, Fedro estava preocupado com o mau <strong>de</strong>sempenho<br />

<strong>de</strong> alguns alunos. Caminhando para casa ao lado <strong>de</strong> DeWeese,<br />

à sombra <strong>da</strong>s árvores, ele tocou no assunto, e DeWeese perguntou<br />

por que ele levava a coisa em termos tão pessoais.<br />

─ Eu também fico pensando nisso ─ respon<strong>de</strong>u Fedro, acrescentando<br />

num tom intrigado: ─ Acho que <strong>de</strong>ve ser porque todo<br />

professor ten<strong>de</strong> a <strong>da</strong>r notas melhores aos alunos que mais se parecem<br />

com ele... Se a nossa caligrafia é to<strong>da</strong> certinha, ten<strong>de</strong>mos a<br />

consi<strong>de</strong>rar isso mais importante no aluno do que se não for. Se a<br />

gente usa palavras rebusca<strong>da</strong>s, vai gostar dos alunos que também<br />

falam assim.<br />

─ Claro. Qual é o problema? ─ perguntou DeWeese.<br />

─ Bom, é que acontece uma coisa meio ridícula ─ disse Fedro.<br />

─ Os alunos que eu mais aprecio, aqueles com os quais realmente<br />

me i<strong>de</strong>ntifico, estão todos se <strong>da</strong>ndo mal!<br />

Ao ouvir isso, DeWeese começou a rir sem conseguir parar,<br />

e Fedro sentiu-se meio ofendido. Havia encarado o assunto como<br />

um fenômeno científico que po<strong>de</strong>ria oferecer pistas para uma nova<br />

compreensão <strong>da</strong>s coisas, e DeWeese achara graça.<br />

A princípio, pensou que DeWeese estivesse apenas rindo do<br />

insulto não intencional que ele tinha feito a si mesmo. Mas não <strong>de</strong>via<br />

ser isso, porque DeWeese não era um gozador. Mais tar<strong>de</strong>, Fedro<br />

enten<strong>de</strong>u que era um riso filosófico, porque os melhores alunos<br />

sempre se dão mal, e todo bom professor sabe disso. Era um riso<br />

que eliminava as tensões diante <strong>de</strong> situações irremediáveis, e para<br />

Fedro teria sido bom rir também, porque naquela época levava as<br />

coisas muito a sério.<br />

Tais respostas enigmáticas <strong>de</strong> DeWeese <strong>da</strong>vam a Fedro a impressão<br />

<strong>de</strong> que o amigo tinha acesso a algum tipo <strong>de</strong> campo <strong>de</strong>sconhecido<br />

<strong>de</strong> compreensão. DeWeese parecia estar sempre escamoteando<br />

alguma coisa. Estava escon<strong>de</strong>ndo algo, e Fedro não conseguia<br />

nem imaginar o que fosse.<br />

Depois vem uma lembrança bastante níti<strong>da</strong> do dia em que<br />

Fedro <strong>de</strong>scobriu que DeWeese também sentia a mesma coisa em<br />

relação a ele.<br />

No ateliê <strong>de</strong> DeWeese havia um interruptor que não funciona-<br />

142

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!