19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

─ Deve ter água um pouco mais abaixo ─ digo eu, levantando-me.<br />

Contemplo a neve por alguns instantes, e <strong>de</strong>pois chamo: ─<br />

Vamos lá?<br />

Ele balança a cabeça, e nós pegamos as mochilas.<br />

Enquanto caminhamos pelo cume em direção ao início <strong>de</strong><br />

uma ravina, ouvimos outro estralejar <strong>de</strong> pedras <strong>de</strong>spencando, bem<br />

mais alto do que o primeiro. Olho para cima, para ver <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem<br />

o som. Na<strong>da</strong>.<br />

─ Que foi? ─ pergunta Chris.<br />

─ Um <strong>de</strong>slizamento.<br />

Ficamos em silêncio por uns momentos, escutando.<br />

─ Será que tem alguém lá em cima? ─ pergunta Chris.<br />

─ Não, acho que é só a neve <strong>de</strong>rreti<strong>da</strong> que está soltando as<br />

pedras. Quando fica assim quente no começo do verão, a gente<br />

ouve um monte <strong>de</strong> pequenos <strong>de</strong>slizamentos. As vezes, até gran<strong>de</strong>s.<br />

E o <strong>de</strong>sgaste natural <strong>da</strong>s montanhas.<br />

─ Eu não sabia que as montanhas se gastam.<br />

─ Gastam, não. Desgastam. Ficam arredon<strong>da</strong><strong>da</strong>s e suaves.<br />

Estas montanhas são novas, ain<strong>da</strong>.<br />

Por todo lado, exceto no pico, as encostas <strong>da</strong>s montanhas,<br />

estão cobertas do ver<strong>de</strong>-escuro <strong>da</strong> floresta. As florestas ao longe<br />

parecem uma capa <strong>de</strong> veludo.<br />

─ Olhando para essas montanhas, a gente até pensa que elas<br />

são serenas e eternas, mas elas estão sofrendo transformações o<br />

tempo todo, às vezes até violentas. Abaixo <strong>de</strong> nós, no fundo <strong>da</strong><br />

terra, neste exato momento, existem forças que podiam partir esta<br />

montanha ao meio.<br />

─ Será?<br />

─ Será o quê?<br />

─ Que elas conseguem partir a montanha inteira?<br />

─ Conseguem ─ respondo. Depois me lembro: ─ Perto <strong>da</strong>qui,<br />

<strong>de</strong><strong>zen</strong>ove pessoas morreram soterra<strong>da</strong>s sob milhões <strong>de</strong> tonela<strong>da</strong>s<br />

<strong>de</strong> pedra. Todos se espantaram <strong>de</strong> saber que só havia <strong>de</strong><strong>zen</strong>ove<br />

mortos.<br />

─ Como foi isso?<br />

─ Eram uns turistas do Leste, que estavam passando a noite<br />

num acampamento. Durante a noite, as forças subterrâneas se libertaram,<br />

e, na manhã seguinte, quando o socorro viu o que tinha<br />

acontecido, só fizeram abanar a cabeça. Nem tentaram <strong>de</strong>senterrar<br />

os corpos. De que adiantava cavar centenas <strong>de</strong> metros <strong>de</strong> rochas<br />

para resgatar corpos que iam ter que ser enterrados novamente?<br />

245

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!