19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

quico que ela <strong>de</strong>ixou atrás <strong>de</strong> si, e que transformou inteiramente a<br />

sala. Agora, ela só contém os ecos <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> moça; o que eu<br />

vim ver aqui <strong>de</strong>sapareceu.<br />

Bom, penso eu, levantando-me, foi ótimo ter visitado esta<br />

sala, mas acho que não quero mais vê-la. É melhor consertar <strong>motocicletas</strong>,<br />

e há uma lá fora esperando por mim.<br />

Na saí<strong>da</strong>, abro outra porta, movido por um impulso, e na pare<strong>de</strong><br />

<strong>da</strong> sala vejo algo que me faz correr um arrepio pela espinha.<br />

É um quadro. Não me recordo <strong>de</strong>le, mas agora sei que foi ele<br />

quem o comprou e o pendurou aqui. E <strong>de</strong> repente <strong>de</strong>scubro que<br />

não é uma pintura, é a reprodução <strong>de</strong> uma pintura, que ele mandou<br />

buscar em Nova Iorque e <strong>da</strong> qual DeWeese não gostou, porque<br />

era uma reprodução, e as reproduções só copiam a <strong>arte</strong>, não são<br />

artísticas, distinção que Fedro não reconhecia na época. Mas a<br />

reprodução, do quadro <strong>de</strong> Feininger “Igreja <strong>da</strong>s Minorias”, atraía-o<br />

<strong>de</strong> uma maneira in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> <strong>arte</strong> com que o tema, uma espécie<br />

<strong>de</strong> catedral gótica, cria<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> linhas, planos, cores e<br />

tons semi-abstratos, parecia refletir a idéia que ele fazia <strong>da</strong> Igreja<br />

<strong>da</strong> Razão; foi por isso que ele a pendurou aqui. Agora me lembro<br />

<strong>de</strong> tudo. Esta era a sala <strong>de</strong>le. Que <strong>de</strong>scoberta! Era esta sala que eu<br />

estava procurando!<br />

Ao entrar, começa a cair sobre mim uma avalancha <strong>de</strong> lembranças,<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>da</strong> pelo choque <strong>de</strong> ter visto a reprodução. A luz<br />

que bate sobre o quadro vem <strong>de</strong> uma mísera e aperta<strong>da</strong> janelinha,<br />

na pare<strong>de</strong> contígua, pela qual ele contemplava o vale e o maciço <strong>de</strong><br />

Madison, e observava a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s tempesta<strong>de</strong>s. Foi enquanto<br />

olhava para este vale que está diante <strong>de</strong> mim... que começou tudo<br />

aquilo, aquela loucura, exatamente aqui! Neste mesmo lugar!<br />

E aquela é a porta que dá para a sala <strong>de</strong> Sarah. Sarah! Agora<br />

estou me lembrando! Ela passava apressa<strong>da</strong>, com o regador na<br />

mão, entre aquelas duas portas, vindo do corredor para sua sala,<br />

e dizia: “Espero que você esteja ensinando Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> aos seus alunos.”<br />

Dizia isso numa voz afeta<strong>da</strong> e monótona, <strong>de</strong> veterana que<br />

está para se aposentar e que agora ia regar suas plantas. Foi aí que<br />

tudo começou. Foi esse o cristal semeado.<br />

Cristal semeado. Agora me ocorre uma forte lembrança. O<br />

laboratório. Química orgânica. Ele estava trabalhando com uma<br />

solução extremamente supersatura<strong>da</strong>, quando aconteceu uma coisa<br />

pareci<strong>da</strong>.<br />

Solução supersatura<strong>da</strong> é aquela que ultrapassou o ponto <strong>de</strong><br />

saturação, no qual não ocorre mais dissolução do soluto. Isso po<strong>de</strong><br />

181

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!