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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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po<strong>de</strong> ser reduzi<strong>da</strong> a um sistema racional estruturado.”<br />

Tal <strong>de</strong>claração <strong>de</strong>ixou Fedro estupefato. Paralisado. Preparara-se<br />

para <strong>de</strong>codificar mensagens profun<strong>da</strong>mente sutis, sistemas<br />

extremamente complexos, para compreen<strong>de</strong>r o significado mais<br />

profundo <strong>da</strong>s palavras <strong>de</strong> Aristóteles, segundo muitos, o maior filósofo<br />

<strong>de</strong> todos os tempos. No entanto, levava pela cara uma <strong>de</strong>claração<br />

imbecil como aquela! Ficou abalado.<br />

Depois, continuou:<br />

A Retórica po<strong>de</strong> ser subdividi<strong>da</strong> em provas e tópicos particulares,<br />

por um lado, e em provas comuns, por outro. A provas particulares<br />

divi<strong>de</strong>m-se em provas artificiais e naturais. As provas artificiais<br />

incluem provas éticas, emocionais e lógicas. As provas éticas<br />

incluem a sabedoria prática, a virtu<strong>de</strong> e a boa vonta<strong>de</strong>. Os métodos<br />

particulares que empregam provas artificiais do tipo ético e que<br />

dizem respeito à boa vonta<strong>de</strong> exigem o conhecimento <strong>da</strong>s emoções,<br />

<strong>da</strong>s quais Aristóteles fornece uma lista para quem esqueceu quais<br />

são: raiva, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração (que se divi<strong>de</strong> em <strong>de</strong>sprezo, <strong>de</strong>speito e<br />

insolência), brandura, amor ou amiza<strong>de</strong>, temor, confiança, pudor,<br />

<strong>de</strong>spudor, consi<strong>de</strong>ração, benevolência, pena, a justa indignação, a<br />

inveja, a rivali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o <strong>de</strong>sprezo.<br />

Lembram-se <strong>da</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> motocicleta que fiz, ain<strong>da</strong> em<br />

Dakota do Sul? Aquela que enumerava cui<strong>da</strong>dosamente to<strong>da</strong>s as<br />

peças e funções <strong>da</strong> moto? Perceberam a semelhança? Fedro convenceu-se<br />

<strong>de</strong> que as origens <strong>da</strong>quele tipo <strong>de</strong> discurso estavam ali.<br />

Aristóteles prosseguia nesse tom no curso <strong>de</strong> páginas e páginas.<br />

Parecia um instrutor técnico <strong>de</strong> terceira classe, <strong>da</strong>ndo nomes a<br />

tudo, mostrando as relações entre as coisas nomea<strong>da</strong>s, vez por<br />

outra inventando astutamente uma nova relação entre as coisas<br />

nomea<strong>da</strong>s e <strong>de</strong>pois esperando o sinal tocar, para que ele pu<strong>de</strong>sse<br />

levantar-se <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ira e ir repetir a lição na turma seguinte.<br />

Nas entrelinhas, Fedro não encontrou nenhuma dúvi<strong>da</strong>, nenhuma<br />

sensação <strong>de</strong> pasmo, apenas a eterna presunção do acadêmico<br />

profissional. Será que Aristóteles achava mesmo que os seus<br />

discípulos seriam melhores retóricos se apren<strong>de</strong>ssem todos esses<br />

nomes e relações intermináveis? E, se não achava, será que ele<br />

julgava mesmo estar ensinando retórica? Para Fedro, era isso que<br />

ele pensava. Na<strong>da</strong> no estilo <strong>de</strong>le indicava que adotasse qualquer<br />

tipo <strong>de</strong> autocrítica. Fedro viu que Aristóteles estava incrivelmente<br />

satisfeito com essa proeza <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e classificar tudo. O mundo<br />

aristotélico começava e terminava com tal proeza. A razão pela<br />

qual Fedro teria eliminado Aristóteles com todo o prazer, se já não<br />

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