19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ificar o parafuso e uma chave <strong>de</strong> impacto para retirá-lo. Mas<br />

suponha que você não tem experiência, e a<strong>da</strong>pta um alicate <strong>de</strong><br />

pressão à haste <strong>da</strong> sua chave <strong>de</strong> fen<strong>da</strong>, e torce o parafuso com to<strong>da</strong><br />

a força, coisa que já <strong>de</strong>u certo anteriormente, mas <strong>de</strong>sta vez só<br />

consegue <strong>de</strong>sbeiçar a fen<strong>da</strong> do parafuso.<br />

Como você já estava pensando no que ia fazer quando retirasse<br />

a tampa, leva um certo tempo para perceber que esse pequeno<br />

contratempo irritante, uma fen<strong>da</strong> <strong>de</strong> parafuso <strong>de</strong>sbeiça<strong>da</strong>, não<br />

é apenas aborrecido e <strong>de</strong>sprezível. Fez você empacar. Você parou.<br />

Está tudo acabado. Você não po<strong>de</strong> mais consertar a motocicleta.<br />

Isso acontece com freqüência na ciência e na tecnologia. É a<br />

coisa mais comum <strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong>. Tudo fica simplesmente empacado.<br />

É o pior momento <strong>da</strong> <strong>manutenção</strong> <strong>da</strong>s <strong>motocicletas</strong>. É tão<br />

ruim que você até evita pensar nele antes que aconteça.<br />

O livro agora não serve para na<strong>da</strong>. Nem a lógica científica.<br />

Não é preciso ter experiência para <strong>de</strong>scobrir o <strong>de</strong>feito. O problema<br />

está na cara. Você precisa é <strong>de</strong> uma idéia para resolver como vai<br />

tirar aquele parafuso <strong>de</strong>sbeiçado <strong>da</strong>li. E o método científico não<br />

fornece esse tipo <strong>de</strong> idéias. Opera apenas <strong>de</strong>pois que elas surgem.<br />

Este é o tempo zero <strong>da</strong> consciência. Tudo empaca. Não há<br />

resposta. Você está encurralado. Liqui<strong>da</strong>do. Num péssimo estado<br />

emocional. Está per<strong>de</strong>ndo tempo, é um incompetente, um sujeito<br />

que não sabe o que faz. Você <strong>de</strong>via se envergonhar. Devia pôr a máquina<br />

nas mãos <strong>de</strong> um mecânico competente que enten<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas<br />

coisas.<br />

A essa altura, é normal a gente ter um acesso <strong>de</strong> raiva mistura<strong>da</strong><br />

com medo, e sentir vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sapecar uma talha<strong>de</strong>ira naquela<br />

tampa, até <strong>de</strong> arrancá-la a marreta<strong>da</strong>s, se for possível. Quanto<br />

mais você pensa nisso, mais vonta<strong>de</strong> sente <strong>de</strong> levar a moto para<br />

uma ponte bem alta e jogá-la lá <strong>de</strong> cima. É ultrajante ser <strong>de</strong>rrotado<br />

assim, pela fen<strong>da</strong> <strong>de</strong> um parafuso.<br />

Você está enfrentando o tão <strong>de</strong>cantado <strong>de</strong>sconhecido, o vácuo<br />

do pensamento oci<strong>de</strong>ntal. Precisa <strong>de</strong> idéias, <strong>de</strong> hipóteses. O<br />

método científico tradicional, infelizmente, nunca chegou a especificar<br />

on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m conseguir mais hipóteses. O método científico<br />

tradicional sempre teve uma visão 20 por 20. É bom para mostrar<br />

o caminho que a gente tomou e para testar a autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>quilo<br />

que a gente pensa que sabe, mas não indica a direção a tomar, a<br />

menos que seja a continuação <strong>da</strong>quela em que a gente estava indo<br />

antes. A criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, originali<strong>da</strong><strong>de</strong>, inventivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, intuição, imaginação<br />

─ em outras palavras, o “<strong>de</strong>sempacamento” ─ estão comple-<br />

282

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!