19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Penso com os meus botões como foi esquisito ter falado aquilo.<br />

Não se fazem comentários <strong>de</strong>sse tipo; a gente sai do hospital<br />

sabendo que não <strong>de</strong>ve falar essas coisas.<br />

Gennie aparece acompanha<strong>da</strong> por Sylvia e sugere que <strong>de</strong>scarreguemos<br />

a bagagem. Concor<strong>da</strong>mos, e ela nos leva até os quartos.<br />

Vejo que minha cama tem um acolchoado bem pesado, para<br />

proteger-me do frio <strong>da</strong> noite. O quarto é muito bonito.<br />

Trago to<strong>da</strong> a nossa bagagem em três viagens entre a casa e<br />

a motocicleta. Depois vou ao quarto do Chris ver se ele precisa <strong>de</strong><br />

aju<strong>da</strong> para <strong>de</strong>sfazer os pacotes, mas ele está feliz, sentindo-se crescido,<br />

e não precisa <strong>de</strong> mim.<br />

Olhando para ele, pergunto:<br />

─ Como é, está gostando?<br />

─ É legal, mas não é como você me disse que era ontem à<br />

noite.<br />

─ Quando?<br />

─ Antes <strong>da</strong> gente ir dormir. Na cabana.<br />

Eu não sei do que ele está falando.<br />

─ Você disse que era um lugar solitário ─ acrescenta ele.<br />

─ Mas por que eu ia dizer isso?<br />

─ E eu vou saber?<br />

Minha pergunta o <strong>de</strong>cepciona, e resolvo <strong>de</strong>ixar o assunto <strong>de</strong><br />

lado. Deve ter sido algum sonho que ele teve.<br />

Ao <strong>de</strong>scermos para a sala <strong>de</strong> estar, sinto o aroma <strong>da</strong> truta,<br />

fritando na cozinha. DeWeese, do outro lado <strong>da</strong> sala, está inclinado<br />

frente à lareira, <strong>de</strong> fósforo na mão, ateando fogo a uns jornais que<br />

colocou sob as achas. Nós o observamos por alguns instantes.<br />

─ Usamos esta lareira durante o verão inteiro ─ comenta<br />

ele.<br />

─ O frio me pegou <strong>de</strong> surpresa ─ comento eu.<br />

Chris diz que também está com frio. Peço-lhe para ir buscar<br />

o suéter <strong>de</strong>le e o meu.<br />

─ É o vento noturno ─ explica DeWeese. ─ Sopra <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro<br />

abaixo, vindo dos picos, on<strong>de</strong> está mesmo frio.<br />

O fogo solta uma súbita labare<strong>da</strong>, <strong>de</strong>pois se apaga, <strong>de</strong>pois<br />

torna a pegar, por causa <strong>de</strong> uma corrente <strong>de</strong> ar instável. Deve estar<br />

ventando muito, penso eu, e olho para fora, pelas enormes janelas<br />

<strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s <strong>da</strong> sala. Do outro lado do <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro vejo, na<br />

penumbra, o movimento brusco <strong>da</strong>s árvores.<br />

─ Mas é claro ─ continua DeWeese ─, você sabe como é frio lá<br />

em cima. Costumava ficar lá o tempo todo.<br />

161

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!