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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é limpa e agradável, diferente <strong>da</strong>quela em que passamos<br />

a noite. Há várias pessoas nas ruas, umas abrindo as lojas<br />

e <strong>da</strong>ndo bom-dia, conversando e comentando sobre o frio. Dois<br />

termômetros que ficam na sombra marcam 5,5 e 7,7°C. Um termômetro<br />

no sol mostra 18°C.<br />

Depois <strong>de</strong> uns qu<strong>arte</strong>irões, a rua principal vira uma trilha<br />

dupla, aci<strong>de</strong>nta<strong>da</strong> e lamacenta, que a<strong>de</strong>ntra um campo, passando<br />

ao lado <strong>de</strong> um barracão pré-fabricado repleto <strong>de</strong> máquinas e ferramentas<br />

agrícolas. Um homem me olha <strong>de</strong>sconfiado, lá do meio<br />

do campo, provavelmente imaginando o que estou fa<strong>zen</strong>do ali, enquanto<br />

examino o barracão. Retorno pela mesma rua, encontro um<br />

banco gelado e me sento, olhando para a moto. Não há na<strong>da</strong> para<br />

fazer.<br />

Estava mesmo frio, mas não a esse ponto. Fico imaginando<br />

como é que o John e a Sylvia tinham conseguido suportar os invernos<br />

<strong>de</strong> Minnesota. Aqui existe uma incoerência flagrante, quase<br />

óbvia <strong>de</strong>mais para ser menciona<strong>da</strong>. Se não suportam o <strong>de</strong>sconforto<br />

nem a tecnologia, vão ter que chegar a um meio-termo. Eles <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

<strong>da</strong> tecnologia e, ao mesmo tempo, a rejeitam. Tenho certeza<br />

<strong>de</strong> que percebem isso, e que essa percepção contribui para o seu<br />

<strong>de</strong>scontentamento com as coisas. A tese <strong>de</strong>les não tem lógica; estão<br />

só expondo a situação como ela é. Mas agora vejo três fa<strong>zen</strong><strong>de</strong>iros<br />

entrando na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, dobrando a esquina numa camioneta novinha<br />

em folha. Aposto que a coisa com eles funciona exatamente ao contrário.<br />

Os fa<strong>zen</strong><strong>de</strong>iros vão mostrar a todo mundo aquela camioneta<br />

e o trator e a nova máquina <strong>de</strong> lavar, vão adquirir as ferramentas<br />

necessárias para consertar essas máquinas se elas enguiçarem, e<br />

vão saber usar as ferramentas. Eles valorizam a tecnologia. Logo<br />

eles, que são os que menos precisam <strong>de</strong>la. Se to<strong>da</strong> a tecnologia<br />

<strong>de</strong>saparecesse amanhã, essas pessoas saberiam como se arranjar.<br />

Seria difícil, mas elas sobreviveriam. John, Sylvia, Chris e eu morreríamos<br />

em uma semana. As críticas à tecnologia não passam <strong>de</strong><br />

uma tremen<strong>da</strong> ingratidão.<br />

Só que é um beco sem saí<strong>da</strong>. Se a gente disser a um malagra<strong>de</strong>cido<br />

que ele é ingrato, só vai lhe <strong>da</strong>r um nome, não vai resolver<br />

na<strong>da</strong>.<br />

Meia hora <strong>de</strong>pois, o termômetro ao lado do hotel marca<br />

11,5°C. No refeitório principal do hotel encontro os três sozinhos.<br />

Parecem impacientes. Pelas suas expressões, estão mais animados,<br />

e John diz, otimista:<br />

─ Vou vestir tudo o que é roupa que eu trouxe, e aí a gente<br />

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