19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esses pe<strong>da</strong>ços todos, peças do quebra-cabeça, po<strong>de</strong>m ser<br />

agrupados em gran<strong>de</strong>s quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, mas os grupos não se combinam,<br />

por mais que a gente se esfalfe. De repente, <strong>de</strong>scobre-se um<br />

pe<strong>da</strong>ço que une dois grupos diferentes, e aí os dois grupos passam<br />

a ser um só. A relação entre o mythos e a loucura. É uma lembrança<br />

vital. Duvido que alguém tenha dito isso antes. A loucura é a<br />

terra incógnita que circun<strong>da</strong> o mythos. E ele sabia! Ele sabia que<br />

a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> qual estava falando se situava além dos limites do<br />

mythos.<br />

Agora estou lembrando! E a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> que gera o mythos.<br />

Foi por isso. Foi por isso que ele disse: “A Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> é o estímulo<br />

contínuo que nos faz criar o mundo em que vivemos, na sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

nos mínimos <strong>de</strong>talhes.” A religião não foi inventa<strong>da</strong> pelo<br />

homem. A religião inventou o homem. O homem inventa respostas<br />

à Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e entre essas respostas está a compreensão do que<br />

ele mesmo é. Sabe-se alguma coisa, vem o estímulo <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

a gente tenta <strong>de</strong>finir o estímulo <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas, para fazê-lo, a<br />

gente só po<strong>de</strong> trabalhar com aquilo que já sabe. O estímulo é uma<br />

correspondência <strong>da</strong>quilo que já se sabe. Tem que ser. Não po<strong>de</strong><br />

ser nenhuma outra coisa. E é assim que o mythos se <strong>de</strong>senvolve.<br />

Por analogia com o que se sabia antes. O mythos é uma estrutura<br />

composta <strong>de</strong> correspondências monta<strong>da</strong>s sobre outras correspondências,<br />

que, por sua vez, são monta<strong>da</strong>s sobre correspondências<br />

anteriores. Essas correspondências são o conteúdo dos vagões do<br />

trem <strong>da</strong> consciência. O mythos é o trem <strong>da</strong> consciência coletiva<br />

<strong>de</strong> todos os grupos humanos que se relacionam. Constitui o trem<br />

inteiro, até os últimos <strong>de</strong>talhes. Fora do trem, <strong>de</strong> ambos os lados,<br />

está a terra incógnita <strong>da</strong> loucura. Ele sabia que, para enten<strong>de</strong>r a<br />

Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, teria que sair do mythos. E por isso sentiu uma certa<br />

vertigem. Sabia que algo estava para acontecer.<br />

Vejo que Chris está voltando, com uma expressão calma e<br />

feliz. Mostrando um pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> casca <strong>de</strong> árvore, ele me pergunta se<br />

po<strong>de</strong> guardá-la como lembrança. Eu não gosto muito <strong>de</strong> acumular<br />

esses fragmentos <strong>de</strong> tudo que ele pega por aí, para não fazer peso<br />

na motocicleta, ain<strong>da</strong> mais que certamente ele vai jogar tudo fora<br />

assim que chegar em casa; mas <strong>de</strong>ssa vez eu concordo.<br />

Alguns minutos <strong>de</strong>pois, a estra<strong>da</strong> chega a um cume e <strong>de</strong>sce<br />

vertiginosamente até um vale, que se torna ca<strong>da</strong> vez mais <strong>de</strong>licado<br />

à medi<strong>da</strong> que vamos <strong>de</strong>scendo. Nunca chamei um vale <strong>de</strong> <strong>de</strong>licado,<br />

mas esta região costeira é tão diferente <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as outras áreas<br />

349

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!