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zen e a arte da manutenção de motocicletas

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não ouvir. Ele senta-se no meio-fio, ao lado <strong>da</strong> moto.<br />

O cheiro <strong>da</strong> maresia aqui é muito forte, e o vento frio não convi<strong>da</strong><br />

ao repouso. Mas eu encontro um gran<strong>de</strong> amontoado <strong>de</strong> rochas<br />

cin<strong>zen</strong>tas, protegido do vento e ain<strong>da</strong> aquecido pelo sol. Concentrome<br />

na quentura <strong>da</strong> luz solar, agra<strong>de</strong>cido pela ameni<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Entramos outra vez na estra<strong>da</strong>, e agora começo a perceber<br />

que ele é outro Fedro, que pensa como ele pensava e age <strong>da</strong> mesma<br />

maneira, procurando sarna para se cocar, impulsionado por forças<br />

<strong>de</strong> que mal tem consciência e que não compreen<strong>de</strong>. As perguntas...<br />

As mesmas perguntas... Ele vive querendo saber <strong>de</strong> tudo.<br />

E quando não encontra a resposta, simplesmente sai <strong>de</strong> moto<br />

por aí, até achar uma solução, que leva a outra pergunta, e aí<br />

ele an<strong>da</strong> à cata <strong>de</strong> nova resposta... Sempre procurando perguntas,<br />

sem observar, sem enten<strong>de</strong>r que as perguntas jamais se esgotarão.<br />

Falta alguma coisa, ele sabe disso, e é capaz <strong>de</strong> <strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong> para<br />

encontrá-la.<br />

Fazemos uma curva fecha<strong>da</strong> que nos leva a um penhasco<br />

saliente. O oceano esten<strong>de</strong>-se até on<strong>de</strong> alcança a vista, frio e azul,<br />

produzindo uma estranha sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero. Os habitantes<br />

do litoral nunca compreen<strong>de</strong>rão o que o oceano significa para as<br />

pessoas do interior ─ um sonho distante, presente mas invisível,<br />

nas cama<strong>da</strong>s mais profun<strong>da</strong>s do inconsciente. Quando a gente<br />

chega à beira do mar e compara as imagens conscientes ao sonho<br />

inconsciente, ocorre uma sensação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapontamento, por termos<br />

vindo <strong>de</strong> tão longe e <strong>de</strong>pararmos com um mistério que jamais po<strong>de</strong>rá<br />

ser <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>do.<br />

Bem mais tar<strong>de</strong>, chegamos a uma locali<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> uma bruma<br />

branca luminosa, que parecia tão natural sobre o oceano, agora<br />

envere<strong>da</strong> pelas ruas, emprestando-lhes uma certa aura, uma radiância<br />

nebulosa e solar que torna tudo nostálgico, como se fosse<br />

uma lembrança <strong>de</strong> anos passados.<br />

Paramos num restaurante apinhado e nos sentamos na última<br />

mesa vazia, ao lado <strong>de</strong> uma janela que dá para a rua luminosa.<br />

Chris está calado e <strong>de</strong> olhos fixos. Talvez, <strong>de</strong> algum modo, ele sinta<br />

que já estamos no fim <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong>.<br />

─ Estou sem fome ─ informa ele.<br />

─ Você me espera enquanto almoço?<br />

─ Vamos embora. Eu não quero comer.<br />

─ Mas eu quero.<br />

─ Eu, não. Estou com dor <strong>de</strong> estômago. ─ O velho sintoma.<br />

Eu almoço, imerso no murmúrio <strong>da</strong> conversa e no tinir dos<br />

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