19.04.2013 Views

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

zen e a arte da manutenção de motocicletas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

estivessem mortos. Aquela fila parecia até um cortejo fúnebre. ─ E<br />

então <strong>de</strong>scansa ambos os pés no chão.<br />

Eu entendo o que ela quer dizer, mas é lógico que isso não<br />

leva a na<strong>da</strong>. A gente trabalha para viver; é o que eles estão fa<strong>zen</strong>do.<br />

─ Eu estive observando os pântanos ─ comento. Após uma<br />

pausa, ela ergue os olhos e pergunta:<br />

─ O que você viu?<br />

─ Um bando inteiro <strong>de</strong> melros <strong>de</strong> asa vermelha. Eles levantaram<br />

vôo <strong>de</strong> repente, quando nós passamos.<br />

─ Ah!<br />

─ Gostei <strong>de</strong> ver aquilo outra vez. Os melros me fazem lembrar<br />

<strong>de</strong> uma coisa, sabe?<br />

Ela reflete por um instante e, <strong>de</strong>pois, tendo ao fundo o ver<strong>de</strong>escuro<br />

<strong>da</strong>s árvores, dá um sorriso. Ela compreen<strong>de</strong> uma linguagem<br />

especial que na<strong>da</strong> tem a ver com o que a gente está di<strong>zen</strong>do. É<br />

como se fosse uma filha.<br />

─ É. Eles são lindos ─ concor<strong>da</strong> ela.<br />

─ Procure prestar mais atenção neles.<br />

─ Está bem.<br />

John aparece e verifica a carga <strong>da</strong> motocicleta. Ajeita algumas<br />

cor<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>pois abre o alforje e começa a vasculhá-lo, colocando<br />

várias coisas no chão.<br />

─ Se precisar <strong>de</strong> cor<strong>da</strong>, é só pedir ─ oferece ele. ─ Puxa, eu<br />

acho que aqui tem cinco vezes mais troços do que <strong>de</strong>via ter.<br />

─ Não estou precisando ain<strong>da</strong> ─ respondo.<br />

─ Fósforos? ─ diz ele, ain<strong>da</strong> remexendo no alforje. ─ Bronzeador,<br />

pentes, cordão <strong>de</strong> sapato... Cordão <strong>de</strong> sapato?! Que é que isso<br />

está fa<strong>zen</strong>do aqui?<br />

─ Ah, não, <strong>de</strong> novo, não ─ implora Sylvia. Os dois trocam um<br />

olhar inexpressivo e <strong>de</strong>pois olham para mim.<br />

─ Os cordões po<strong>de</strong>m rebentar a qualquer momento ─ <strong>de</strong>claro,<br />

solenemente. Eles sorriem, mas não um para o outro.<br />

Chris surge <strong>de</strong>ntro em pouco; já é hora <strong>de</strong> partir. Enquanto<br />

ele se apronta e monta, John leva a moto <strong>de</strong>le até a estra<strong>da</strong>, e Sylvia<br />

se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong> com um aceno. Entramos <strong>de</strong> novo na pista. Lá vão<br />

eles, já bem longe <strong>de</strong> nós.<br />

A chautauqua que i<strong>de</strong>alizei para esta viagem foi inspira<strong>da</strong><br />

nesses dois, há muitos meses, e talvez, embora eu não tenha certeza,<br />

esteja liga<strong>da</strong> a um certo <strong>de</strong>sentendimento oculto entre eles.<br />

15

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!